Luciano Siqueira
Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
Devagar
com a crítica, que a realidade fala mais alto. Não que não se deva criticar,
exigir. Mudar o país é tarefa ingente, exige discernimento, determinação, coragem
e habilidade política; e é sempre útil, a quem governa, manter-se sob acompanhamento
crítico da oposição. No mínino, trava-se o bom debate democrático, que
contribui para evolução das ideias e esclarece a população.
Mas
não se pode escamotear a realidade concreta. No caso, o fato irrecusável de
que, na última década, vem se forjando um modelo de desenvolvimento ainda
incompleto, carente da superação de conceitos e soluções práticas defeituosos,
é verdade, porém marcado pela combinação entre crescimento e inserção social.
Mesmo
em tempo de crise global, que influencia negativamente a nossa economia e, em
certa medida, contribui diretamente para as taxas recentes de crescimento aquém
do desejável e do necessário.
É o que revela o estudo Duas Décadas de Desigualdade e Pobreza no
Brasil Medidas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgado
agora pelo Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada: mais
de 1 milhão de pessoas saíram da extrema pobreza.
Isto quer dizer que a desigualdade de renda diminuiu em 2012, mesmo com o crescimento do PIB limitado a 0,9%. Tanto que as famílias menos aquinhoadas, destacadamente, conseguiram evolução na renda maior do que a média, 14%, entre os 10% mais pobres da população.
(Em estudo recente, João Sicsù, pesquisador da Universidade Federal do
Rio de Janeiro e também do Ipea, demonstrou precisamente que nos últimos dez
anos, a oferta de 20 milhões de novos empregos com carteira assinada (contra a
perda de 12 milhões de empregos formais no período de Collor a FHC), desfez a
assertiva neoliberal de que a vigência da CLT seria obstáculo instransponível à
redução do desemprego e que a flexibilização das relações formais de trabalho
se impunha como indispensável.).
É nesse contexto que se deve ler os números ora anunciados. O documento
do Ipea assinala que a população extremamente pobre (que vive com menos de US$
1 por dia) teve redução de 7,6 milhões de pessoas para 6,5 milhões. A população
pobre (que vive com entre US$ 1 e US$ 2 por dia), de 19,1 milhões de pessoas
para 15,7 milhões.
No dizer do presidente do Ipea, Marcelo Neri, "três milhões e meio de pessoas saíram da pobreza em 2012 e 1 milhão da extrema pobreza, em um ano em que o PIB cresceu pouco. Para a pobreza, o fundamental é o que acontece na base – cuja renda cresceu a ritmo chinês. O bolo aumentou com mais fermento para os mais pobres, especialmente para os mais pobres dos pobres".
No dizer do presidente do Ipea, Marcelo Neri, "três milhões e meio de pessoas saíram da pobreza em 2012 e 1 milhão da extrema pobreza, em um ano em que o PIB cresceu pouco. Para a pobreza, o fundamental é o que acontece na base – cuja renda cresceu a ritmo chinês. O bolo aumentou com mais fermento para os mais pobres, especialmente para os mais pobres dos pobres".
São pessoas que agora conseguiram adquirir bens duráveis (televisão, fogão,
telefone, geladeira e máquina de lavar) e ter acesso a serviços públicos
essenciais (energia elétrica, coleta de lixo, esgotamento sanitário e acesso à
rede de água). Isto pelo aumento da renda do trabalho e pelo impacto do Bolsa
Família.
Alguém tem dúvida de que essa faceta da realidade social brasileira terá
seu peso específico no comportamento do eleitorado no pleito geral de 2014?
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