Civilização da barbárie
Eduardo Bomfim, no Vermelho
A Nova Ordem Mundial determinou de maneira
hegemônica, nas últimas três décadas, um modelo de civilização cuja primazia é
a realização das vontades irrefreáveis do capital global acima do direito
internacional, rasgando-o quando tem sido necessário.
Forjando um tipo de sociedade uniforme, presente em quase todas as nações do planeta onde a maioria das pessoas vive sob as diretivas compulsivas do lucro, do capital rentista, com uma agenda social global fragmentária, e o que importa é a exibição pública da riqueza, o culto à celebridade, à fama, levados ao limite.
Os grandes valores humanos, arduamente conquistados durante séculos contra o obscurantismo, intolerância, o enlouquecido fanatismo, o ódio, foram empurrados para algum lugar na consciência dos povos onde se processa a resistência.
Essa ideologia do pensamento único espalhada ao planeta, associada à economia neoliberal, constituiu além de hostil, feroz destruição financeira e social, uma profunda crise antropológica onde mais que em qualquer época recente nega-se a relevância, o lugar do ser humano na edificação das sociedades, substituído pela deificação da mercadoria.
Se em outros períodos esse fetiche típico do mercado era exercido com certo pudor em nome de algo fantasiosamente relevante, hoje o valor nominal do indivíduo reside na condição dele adquirir e exibir produtos diferenciados e quanto mais inacessíveis aos demais maior o seu prestígio na escala social.
Não é casual que atualmente cultue-se ideologicamente como algo absolutamente normal nas sociedades sob a chamada Nova Ordem Global o protagonismo da aparência física pessoal mas que transforma esses mesmos indivíduos em objetos-mercadorias na disputa pelas vagas ao mercado de trabalho.
Essa enxurrada cultural de valores artificiais provoca nas comunidades surtos de bestialidades constituindo o vazio fundamental para a selvageria individual, coletiva, inominável em que fenômenos de barbárie social como o ocorrido no estádio de futebol em Joinville tendem a se ampliar se não forem contidos dentro da lei.
Assim é imprescindível o crescimento econômico sem o qual nada se constrói mas, impõe-se como decisivo, um outro projeto de sociedade humana a essa crise civilizacional em que o mundo se encontra mergulhado, inclusive o Brasil.
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