19 dezembro 2013

PIB, emprego e eleições

Guerra de guerrilha na economia
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
 
Sempre foi assim – aqui e alhures, como se dizia antigamente. Economia e política se entrelaçam, seja pelos interesses de classe que expressam, seja porque é através da luta política que tais interesses se concretizam. No frigir dos ovos, problemas econômicos são solucionados por meio de decisões políticas.

Uma decisão política emblemática, e que resultou em enormes benefícios para a economia pernambucana e regional, foi a localização da Refinaria Abreu e Lima no Complexo Portuário de Suape, traduzindo a sensibilidade do presidente Lula em relação à necessidade de reduzir desigualdades regionais mediante empreendimentos industriais de ponta.

Outra face desse entrelaçamento é evidente nos démarches e especulações em torno do pleito presidencial de 2014. Diz-se que a presidenta Dilma terá chances de reeleição reforçada se a economia estiver bem; do contrário, candidaturas oposicionistas terão possibilidades de crescer. Em certa media é verdade, embora não retire da esfera política, das inclinações do eleitorado em especial, o fato determinante do desenlace da disputa.

Nesse contexto, assistimos a um vai e vem incrível na mídia, quanto a previsões sobre a taxa de crescimento do PIB, que mais do que um informação econômica passa a ser trunfo político. Tudo pela construção de ambiente social favorável, ou não, a propósitos eleitorais.

Se esse “debate” fosse sério, se estaria discutindo a essência da questão: a inviabilidade da retomada do crescimento em patamar de 5% ou mais mantendo-se o tripé câmbio flexível, metas inflacionárias ultra-rígidas e juros altos. Mas não se discute isso justamente porque mudanças nesses condicionantes macroeconômicos ferem interesses poderosos do setor rentista – o sistema financeiro que domina a mídia e monitora rigorosamente editoriais e análises de colunistas e blogueiros especializados.

Há outra questão essencial, muito mais terra a terra: a taxa de desemprego, diretamente relacionada com as condições de vida da maioria dos eleitores. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “passou de 5,2% em outubro para 4,6% em novembro, e é a menor taxa de desemprego desde o início da série histórica, em março de 2002, e coincide com a leitura apurada em dezembro do ano passado. Em novembro de 2012, o indicador estava em 4,9%.”

Tudo a ver com o cenário eleitoral em formação. Diz respeito principalmente à chamada nova classe média – ou, como convencionalmente se denomina, classe C -, que na última década se expandiu extraordinariamente. Na verdade, o contingente que se incorporou ao mercado de trabalho da produção de bens e serviços e ao mercado de consumo atingiu a marca dos quarenta milhões de brasileiros – o equivalente à população da Argentina.

Portanto, o fato de nos mantermos com taxas de desemprego tecnicamente consideradas, para grande número de categorias profissionais, pleno emprego, chega a ter mais importância eleitoral do que as oscilações do chamado “mercado” em relação ao PIB do ano vindouro. Porque, em última instância, o resultado do pleito possibilitará, ou não, as condições necessárias para destravar o crescimento econômico com inclusão social.

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