Copa e anti-copa
Flávio Carvalho
O irrequieto sr. Blatter, do
alto da montanha suíça onde vive, acusou o Brasil de ser o país que mais
atrasou as obras da Copa do Mundo.
Pode-se dizer que ele deu, no plano internacional, o
pontapé inicial do que vai ser o jogo do ano de 2014. Do jogo fora das quatro
linhas, bem entendido.
Terá
como ponta-de-lanças as mídias atacantes Economist e Financial Times, com o
meio do campo reforçado por setores neo-liberais de outras mídias, que
incluirão até o New York Times, o The Guardian, Le Monde, Corriere della Sera,
El Pais, e provavelmente a germânica Der Spiegel.
Na
defesa, dando bico para tudo quanto é lado, estarão os cronistas do desastre
anunciado no Brasil, os arautos da velha mídia, que estão apostando em: 1) Movimentos
como o “Não vai ter Copa”, com primeiro jogo marcado para o 25 de janeiro. 2) Movimentos
como “Anônimos”, “Vem pra rua você também”, esperando que manifestações ganhem
corpo de meados de junho a meados de julho, com vaias nos estádios cada vez que
o tema roçar ou mostrar a presidenta Dilma. 3) Na esperança inconfessável de
que arruaças do tipo “Blackblocks” e possíveis outras provocações
pseudo-anarquistas ou de direita mesmo contem com o inestimável apoio de uma
brutalidade da polícia, para expor “a farsa Brasil” dentro e fora do país. 4)
Se de tudo sair alguma vítima fatal mesmo que seja uma única, melhor ainda.
Parece,
diante dos prenúncios cada vez menos desastrosos sobre a economia, apesar de
dificuldades na área industrial e na balança comercial, e diante da inépcia
embolada das candidaturas de oposição, que está é a única bala de prata que
resta para estas oposições midiáticas.
Ao
invés de apostas programáticas – já que os verdadeiros programas de direita no
Brasil são inconfessáveis pelos candidatos, embora existam, só lhes resta apostar
nos anti-programas, nas catástrofes políticas e sociais possíveis e
imagináveis. E nas inimagináveis também.
Que
candidato vai fazer a loucura de dizer que vai fechar o Bolsa Família?
Ou
outros programas sociais?
Que
candidato terá a temeridade de dizer que vai cortar o ProUni (a não ser na
extrema esquerda) e a política de quotas?
Que
candidato vai confessar que vai esvaziar o Mercosul e voltar à velha política
de privilegiar “os países que importam”, quer dizer, a velha política de
subserviência aos Estados Unidos e à Europa?
E
que candidato vai ter a coragem de dizer que, na verdade, vai acabar com essa
parolagem de meio-ambiente e vai favorecer a expansão desregrada do
agrobusiness no Cerrado, na Amazônia legal e ilegal? Mesmo com apoio do Greenpeace
e do SOS Mata Atlântica antes da eleição.
Que
candidato vai declarar que a política de juros altos e de desindustrialização
através da “abertura” será o norte desta nova dependência em relação aos fortes
Nortes da geopolítica?
Que
candidato dirá que vai retomar uma política de dependência também no campo da
defesa militar, seja na Amazônia, no espaço aéreo ou na plataforma marítima
(leia-se Pré-Sal).
Que
candidato dirá que vai rifar os ganhos do Pré-Sal entre multinacionais e outros
barões da indústria fóssil, ao invés de destiná-los prioritariamente à educação
e ao investimento tecnológico?
Ou
que vai diminuir ainda mais as verbas da saúde pública em favor das indústrias
privadas do setor? Ou que vai tocar do país os médicos cubanos e outros que
vieram auxiliar as regiões desastissidas? Ou que voltarão a criminalizar os
movimentos sociais, especialmente o MST?
E
por aí vai. Mas podem crer: confessem ou não os candidatos e os arautos da
velha mídia, é tudo isto que nos espera e muito mais caso as oposições de hoje
ganhem a eleição em outubro. Porque as oposições hoje no Brasil têm sobretudo
uma visão anacrônica, provinciana e paroquial do mundo que as cerca, incapazer
de ver, por exemplo, que mesmo dentro do sistema capitalista a melhor tendência
dominante é a da formação de blocos regionais, da Europa desenvolvida à África
subdesenvolvida. E por aí também vai.
Mas
como tudo isto é inconfessável, só resta a bola, quer dizer, a bala de prata da
Copa e da Anti-Copa. Deste modo, o jogo opositor da Anti-Copa torna-se um jogo
anti-Brasil, dentro e fora das quatro linhas. Na ilusão de que se a Copa for
normal ou próxima disto, e de que, pior ainda, de que se o Brasil ganhá-la, a
reeleição da presidenta estará garantida, vão apostar declaradamente na
primeira condição – “não à Copa” – e surdamente na segunda – “que o Brasil
perca dentro do campo, se a Copa for fuindo”.
Vamos
ver como eles conseguirão conclamar, sem revelar, sem expor, tudo isto para as
galeras nas praças e diante da tevê antes, durante e depois dos jogos.
Como
diz o Saul Leblon, a ver.
Publicado
em Carta Maior
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