Desigualdades
na economia e no futebol
Jorge Jatobá*
Jorge Jatobá*
As desigualdades têm
muitas facetas e são relativas por natureza. O Brasil é um país muito desigual
e sua desigualdade no atributo renda se manifesta por gênero, por raça e por
região. Como reflexo de outras iniqüidades até a qualidade do futebol se revela
às vezes profundamente desigual.
O IBGE divulgou
recentemente os dados do Produto Interno Bruto (PIB) -um indicador
do tamanho da economia- por estado para o ano de 2011. As
informações revelam que a despeito de alguma desconcentração a força da economia
brasileira se encontra localizada em cinco estados (São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná) que respondem conjuntamente por quase
dois terços (65,2%) da economia nacional. Só a economia de São Paulo contribui
com quase um terço (32,5%) do PIB brasileiro. São estados situados na Classe
"A" da economia e não por coincidência as unidades da federação que
concentram mais times na Série "A"
do "Brasileirão" , bem como mais equipes campeãs na
competição. Quinze das vinte equipes que disputam o campeonato brasileiro de
2013 situam-se nesses cinco estados (75%).
No entanto, houve alguma desconcentração econômica ao longo do período
2002-2011: o Sudeste perdeu 1.3 pontos percentuais (p.p) ao declinar sua
participação no PIB de 56,7% para 55,4% e o Sul perdeu 0,7 p.p. (de 16.9% para
16,2%) enquanto o Nordeste ganhou 0,4 p.p., o Norte 0,7 p.p. e o Centro Oeste
0,8 p.p.
O caso do Nordeste é
emblemático da dificuldade de superar diferenças construídas multisecularmente.
Durante os dez anos que separam 2011 de 2002, o PIB do Nordeste aumentou sua
importância relativa de 13,0% para 13,4%. O menor incremento absoluto (0,4
p.p.) e relativo (3,1%) dentre as macrorregiões brasileiras, período em que
todos nós nordestinos afirmávamos com orgulho que a região estava crescendo
acima da média do país. De fato, nós estávamos, mas o Norte e o Centro Oeste
cresceram mais rápido e, por conseguinte, ganharam gravitação ainda maior.
O PIB por habitante é
outra forma de visualizar as diferenças. Em 2011, o PIB per capita do Nordeste
era menos da metade (48,2%) do PIB brasileiro enquanto o PIB do Norte era 65%
menor do que nacional e o da região Centro-Oeste 29,2% maior. De fato, o PIB
per capita do Nordeste ainda é o menor dentre as macrorregiões brasileiras com
ganhos pouco expressivos desde quando se passou a medir esse indicador. Embora
o PIB per capita não seja um indicador de eficiência produtiva, ele aponta que
a produtividade média do Nordeste é a menor dentre as grandes regiões
brasileiras. Se dividirmos os PIBs das macrorregiões pelo tamanho da força de
trabalho ou da população ocupada a ordem não se alteraria: o Nordeste manteria
a última posição na hierarquia macrorregional.
E Pernambuco? A economia
de Pernambuco aumentou sua participação no PIB nacional de 2,4% em 2002 para
2,5% em 2011. Aumentou sua gravitação em 10 anos de 0,1
pontos percentuais. É uma economia intermediária em termos nacionais.
Está na Classe "B". Cresceu acima da média do país, mas precisa avançar
muito mais rapidamente em termos absolutos e relativos para que não tenha que
ficar quase sempre, com no futebol, na Série "B". Pernambuco quando
maturarem os investimentos em curso vai aumentar sua gravitação. O desafio é
dar sustentabilidade a este crescimento para entrar na economia, como no
futebol, de forma permanente na Séria "A".
Artigo Publicado na Revista Algo Mais
Edição 93 (dezembro de 2013).
* Jorge Jatobá é "Economista e Sócio
da CEPLAN
Nenhum comentário:
Postar um comentário