Siqueiros
Batalha campal
Luciano Siqueira, no Vermelho
A assertiva de Carl von Clausewitz de que "a
guerra é a continuação da política por outros meios" - no sentido de que
mesmo no confronto entre exércitos em campo de batalha é a orientação política
que tem a primazia, bem que pode ser aplicada agora no Brasil quando no terreno
da economia trava-se renhido combate cuja motivação essencial é precisamente a
política. Com foco na eleição presidencial.
Em linguagem militar, o confronto entre o governo e
o setor rentista (sob o biombo de "mercado") envolve guerra de
guerrilhas e guerra de posições. Entrelaçadas. Sem tréguas. Reverberado na
mídia, no Parlamento, no discurso dos partidos e seus próceres. E nas
pranchetas dos marqueteiros.
Em uma década de governos hegemonizados pelo
Partido dos Trabalhadores, o Brasil alcançou crescimento oscilante, porém
ascendente - enquanto perdurou ambiente internacional favorável -, incluindo no
sistema de produção de bens e serviços e no mercado de consumo, cerca de
quarenta milhões de pessoas. Mesmo na ocorrência da crise global deflagrada em
2007/2008, em que oscilações e pressões externas impactam nossa economia, com
reflexo direto na taxa de crescimento do PIB, vários indicadores diretamente
relacionados com as condições de existência da população se mantêm positivos.
Taxa de desemprego beirando o que se considera tecnicamente pleno emprego;
ampliação da massa salarial; expansão do crédito ao consumidor individual;
queda da inadimplência, etc., continuam ostentando níveis bastante satisfatórios.
Mas é preciso destravar a economia, rompendo com
condicionantes macroeconômicos que inibem a produção e fazem a festa da usura.
Metas inflacionárias excessivamente restritivas, câmbio flexível e juros
elevados constituem o território estratégico a ser subtraído ao inimigo. Porque
a continuidade do crescimento em patamar mais elevado há de combinar
investimentos públicos e privados, em ambiente econômico de razoável
confiança.
Mas este não é um objetivo consensual – não no modelo em
construção. Sob a palavra de ordem de reforço do tripé macroeconômico – tão
caro aos tucanos e à líder da chamada Rede, Marina Silva – trava-se verdadeira
batalha campal para inverter a orientação adotada pelo governo. Quando a taxa
Selic foi abaixada a 7,5%, um dogma do “mercado” começou a ruir. Mas a reação
foi rápida e contundente, mediante combinação ardilosa de múltiplos mecanismos
e a exploração negativa das pressões decorrentes da crise global, fez-se de uma
suposta pressão inflacionária (na esteira do aumento momentâneo dos preços de
alimentos e da elevação de tarifas de serviços públicos) instrumento de
instabilidade, levando o governo a recuar.
Nesse cenário, há um consenso entre os que pelejam pelo
desenvolvimento de que um superávit primário em torno de 2% associado a mais
investimentos públicos em infraestrutura gerariam ambiente favorável à expansão
dos investimentos privados no setor produtivo. Mas o mundo da usura é
implacável: pressiona na direção inversa. E entra com força para turbinar
candidaturas de oposição.
Tudo no Brasil é para ontem, o povo não pode esperar. Mas a
guerra da economia terá mesmo que ser resolvida no voto.
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