Tendências da pesquisa Datafolha são favoráveis a Dilma
Antônio David, na Carta Maior
Não surpreende que a mídia veicule os dados como melhor interessa à campanha de Aécio Neves. Talvez a única chance do tucano seja mesmo essa.
A mais recente pesquisa de intenção de voto feita pelo Datafolha (*) tem sido ventilada na imprensa como um presságio da derrota de Dilma no próximo pleito presidencial.
De fato, a pesquisa revela não apenas que a diferença entre Dilma e Aécio diminuiu, mas também que se a eleição fosse hoje não saberíamos se haveria ou não segundo turno e, em havendo, quem ganharia.
Porém, mais importante do que este retrato do momento, são as tendências que a pesquisa revela, claramente favoráveis à petista. A seguir, enumero as mais importantes:
1) Na pesquisa espontânea (em que não são apresentados nomes de candidatos aos entrevistados), chama a atenção que a maioria dos eleitores ainda está indecisa: 54% ainda não sabem em quem votar. Na espontânea, Aécio tem 9%, Campos apenas 2%. Dilma, 22%.
Há mais indecisos na base potencial de Dilma: entre os eleitores mais pobres, situados na faixa de renda até 2 salários mínimos, os indecisos chegam a 58% na pesquisa espontânea e 15% na estimulada, o que leva a crer que é Dilma quem tem o maior potencial de crescimento quando a campanha começar.
2) Acrescente-se aqui um dado importante: os candidatos ainda são pouco conhecidos. Inclusive Dilma. 32% dos eleitores dizem que conhecem Dilma "um pouco" e 15% "só de ouvir falar". Esse mesmo dado para Aécio é 27% e 37%, Campos, 18% e 34%. Portanto, tudo depende da campanha na TV e rádio, e dos eleitores que hoje estão indecisos e/ou não conhecem muito bem os candidatos.
Ora, se nos últimos meses a intenção de voto em Aécio e Campos cresceu e diminuiu a intenção de voto em Dilma, não se pode esquecer que nesses meses Aécio e Campos fizeram mais campanha (não oficial) do que a presidenta. É natural que os oposicionaistas tenham subido um pouco e a diferença entre eles e Dilma tenha caído. O quadro agora tende a alterar-se com o início da campanha no rádio e na TV.
3) Dessa vez o Datafolha não perguntou se a pessoa votaria em um candidato apoiado por Lula ou por FHC etc. Estranho terem deixado de lado informação tão importante.
Porém, pesquisa anterior do mesmo instituto mostrou que FHC é péssimo cabo eleitoral ao passo que Lula é ótimo cabo eleitoral. Quando a campanha começar, Lula e FHC aparecerão. Mesmo que Aécio tente esconder FHC, a campanha de Dilma o mostrará, e isso terá impacto na decisão do eleitor.
4) O dado mais importante: entre os eleitores que consideram o governo Dilma ótimo/bom (cerca de 32% do eleitorado), 77% declaram ter a intenção de votar em Dilma. E os demais 23%? Entre estes, o eleitor divide-se entre outros candidatos, branco/nulo e indecisão. Contudo, a considerar a avaliação que fazem do governo, não é de se esperar que daqui até o dia da eleição parte desses eleitores - talvez a maior parte - convença-se a votar em Dilma?
Considerando que hoje o cenário é de indefinição sobre segundo turno, e que mais ou menos um terço do eleitorado considera o governo ótimo/bom, esse dado é crucial. Esses 23% restantes representam nada menos do que entre 7% e 8% do eleitorado. Se Dilma conquistar esses 23% restantes ou boa parte dele, é grande a chance de ela ganhar a eleição no primeiro turno. Dilma tem todas as condições de conquistá-los. Depende da campanha.
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Levando-se em conta esses dados, está claro que as tendências são favoráveis à presidenta Dilma e que, portanto, a conclusão que se deve tirar dessa última pesquisa é o exato oposto do que a imprensa tem ventilado.
Daí não se deve concluir que já ganhou. Dilma não deve subir no salto alto. Entre os eleitores hoje indecisos e mesmo entre aqueles que declararam a intenção de votar em outros candidatos, parte importante é inclinada a votar na petista. Não apenas entre esses 23% que consideram seu governo ótimo/bom, mas também entre os que o avaliam como regular e estão indecisos - mais de 10% do eleitorado. Mas entre ter inclinação a votar e votar, há uma diferença grande. Dilma terá de conquistá-los. E, para tanto, terá de assumir compromissos - à esquerda.
Mas há que se tomar cuidado. Se há um risco, ele reside sobretudo no interior da campanha petista.
Face a tais tendências, não surpreende que a mídia veicule os dados como melhor interessa à campanha de Aécio Neves. Talvez a única chance do tucano seja mesmo essa: passar a ideia de que a tendência é Dilma cair e Aécio subir, quando na verdade é o oposto. E para quê? Para alimentar o desespero entre os petistas e, com isso, esperar que do lado da campanha de Dilma e do PT façam alguma grande bobagem. Quem não se lembra dos "aloprados"?
Como nas últimas eleições, a disputa está cada vez mais polarizada entre a petista e o tucano. Dilma tem condições de vencer ainda no primeiro turno. Basta não cometer erros - o que significa dizer, não cair no jogo da mídia e da oposição e não se desesperar. Só o desespero do lado petista pode jogar areia nas tendências acima indicadas. Não há razão para desespero.
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