Pesquisas, PIB e vida real
Luciano Siqueira, no portal Vermelho www.vermelho.org.br
Outro dia, um importante empresário europeu comentou aqui no
Recife a absoluta discrepância entre o olhar estrangeiro (dos investidores,
sobretudo) acerca da cena brasileira e a visão predominante na mídia tupiniquim.
Fosse verdade o que se lê nos jornais e revistas semanais e sites e o que se vê
na TV e ouve no rádio – disse ele -, o Brasil estaria mergulhado em profunda
recessão, o desemprego teria assumido proporções “espanholas” e o ambiente
social seria de revolta ou caos. Porém, apoiado em números concretos, e
comparando a situação brasileira com a do resto do mundo, asseverou
(expressando a opinião reinante lá fora) que aqui reside, em meio à crise
global, parte das melhores oportunidades de negócios – especialmente porque não
há recessão, a oferta de emprego se mantém estável e o mercado interno continua
em expansão.
De fato, a mídia hegemônica de há muito abandonou a missão
de informar, trocando-a pela propaganda explícita de sentido político. Na
oposição ao governo federal, todos os mecanismos de deturpação dos fatos são
empregados para fomentar uma opinião pública insatisfeita e tendente à mudança
no pleito presidencial que se aproxima.
Dentre muitos, dois itens frequentam o noticiário e ocupam
os “analistas”: as pesquisas eleitorais e o desempenho do Produto Interno
Bruto. E associada a ambos, a cantilena de que o “mercado” estaria inseguro
diante da possibilidade da atual presidenta renovar o seu mandato.
O ridículo e odioso episódio do Banco Santander, que veio à
tona dias atrás, diz bem desse tal “mercado” referido como se fora a expressão
do sentimento da maioria da população. Nada mais é do que o setor rentista,
empenhado em fomentar as candidaturas de oposição e pautar o aparato midiático.
As pesquisas eleitorais teimam em revelar uma enervante
(para eles) estabilidade das intenções de voto na presidenta Dilma, a despeito
do implacável bombardeio diário disseminado em todas as mídias. Com a
possibilidade real de uma sensibilização forte da maioria dos eleitores a
partir da veiculação do programa eleitoral gratuito na TV e no rádio, quando a
atual mandatária poderá expor o conjunto da obra.
Quanto ao PIB – assim como o terrorismo inflacionário -, por
mais que se faça alarde do baixo crescimento da economia (omitindo-se os
condicionantes externos negativos), que é concreto, não parece ter aderência na
percepção do eleitor.
Há, assim, um contraste notável entre a pregação
oposicionista midiática e a vida cotidiana. Estima-se que um terço dos lares
brasileiros abriga famílias beneficiadas pelos programas sociais do governo
federal – uma das razões para a enorme dificuldade da candidatura de Aécio
Neves (e também da de Eduardo Campos) penetrar no Nordeste e no Norte, que
numericamente desequilibram a tendência majoritariamente oposicionista do
eleitorado do Centro-Sul.
O eleitorado classificado pelos padrões mercadológicos como
pertencente aos segmentos C, D e E provavelmente não se dispõe a trocar sua
relativa segurança atual, resultante da melhoria objetiva das suas condições de
existência, por um apoio a candidaturas oposicionistas que acenam com o
desconhecido – ou, pior, para uma volta ao passado recente de grandes vexames
para o povo trabalhador.
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