Em debate, Marina é exposta a contradições e vacila em respostas
Candidata do PSB iguala dona do Itaú, 'educadora' e
coordenadora de campanha, a Chico Mendes, evita resposta sobre gurus econômicos
do neoliberalismo e é questionada por Dilma sobre falta de diálogo
O primeiro debate entre
os candidatos à presidência da República serviu para explorar contradições da
candidata do PSB, Marina Silva. Durante quase três horas, os postulantes ao
Palácio do Planalto trataram de temas variados, da participação social à saúde,
das relações com Cuba à política econômica, da violência ao aborto. Ao abrir e
fechar sua participação, Marina evocou Eduardo Campos e a “esperança” de mudar
o Brasil.
Praticamente todos os
candidatos a questionaram sobre conceitos que tem defendido desde a disputa
presidencial de 2010, e que vieram se transformando em uma série de propostas
multitemáticas que supostamente se encontram no que chama de “nova política”.
Foi a ex-senadora quem procurou o assunto pela primeira vez ao insinuar a Dilma
Rousseff (PT) que os cinco pactos propostos pela presidente após as
manifestações de junho do ano passado não levaram a nada.
“Considero que tudo deu
certo”, discordou a candidata à reeleição. Ela recordou que os recursos para
educação foram ampliados com a destinação de royalties do pré-sal para o setor,
indicou o Mais Médicos como solução na área de saúde, disse que há estabilidade
econômica e inflação sob controle e advertiu que a reforma política não foi
adiante por decisão do Congresso. “Acredito que a reforma política no Brasil
vai exigir a participação popular e a consulta popular como um compromisso.”
Marina acusou Dilma de
mostrar um Brasil “cinematográfico” e afirmou que a presidenta não se
comprometeu com a reforma política. “Uma das coisas mais importantes para que a
gente possa resolver os problemas é reconhecer que eles existem. Quando a gente
não reconhece não passa nenhuma esperança à população de que serão resolvidos.”
As candidatas do PSB e
do PT tiveram chance de reeditar publicamente um debate que vêm mantendo desde
o final da última semana por meio de entrevistas, a respeito de como se deve
administrar o país. Marina repisou o argumento de que o correto é ter um
presidente com visão estratégica, atributo que faltaria à petista, a quem acusa
de entregar o país em situação pior que aquela que encontrou. “Um presidente
precisa de legitimidade. Ele precisa gozar da capacidade de mediar diferentes
interesses. E é dessa forma que eu pretendo governar o Brasil.”
Dilma também revisitou
seus argumentos ao recordar que cabe ao presidente dialogar e encontrar
soluções, uma referência à postura de Marina de se negar a conversar com alguns
líderes políticos. “Eu gostaria de saber quais ministérios vão ser fechados. Eu
acredito que as pessoas tem de ter sim visão estratégica, mas o presidente, que
lida com todos os problemas do país, não será só discursando.”
Boas e más companhias
Quem teve a primeira
oportunidade de perguntar a Marina sobre suas contradições foi o tucano Aécio
Neves, que perguntou como é possível que ela se recuse a estar no palanque do
governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), considerado da “velha política”, e
diga que vai governar com o apoio de José Serra, antecessor de Alckmin.
“Defender a nova
política é combater sobretudo a polarização que tem se constituído num
verdadeiro atraso para o país”, respondeu Marina, confrontada com a ideia de
Aécio de que a separação deve ser entre a boa e a má política, o que pressupõe
coerência.
Já na pergunta seguinte
a candidata do PSB foi apresentada a outro tema difícil. O candidato do PRTB,
Levy Fidelix, perguntou como se pode dizer de nova política uma chapa que tem
como coordenadora-geral Neca Setúbal, uma das donas do banco Itaú, e como
apoiador central o empresário Guilherme Leal, dono da Natura. “A Neca é uma
educadora. Uma educadora que há mais de 30 anos atua na educação e minha
relação com ela é no campo que me ajuda a coordenar o programa”, respondeu
Marina, afirmando que contaria em seu governo com pessoas boas, independente de
suas origens. Ao tentar explicar a questão, disse que Neca e o líder
extrativista Chico Mendes, assassinado em 1988, fazem parte da "mesma
elite", o que em minutos virou piada na internet.
“O senhor Leal deve
bilhões ao fisco”, respondeu Fidelix. “A gente sabe também que o banco Itaú não
quer pagar R$ 18 bilhões pela compra do Itaú-Unibanco. E a senhora está com
essas pessoas.”
Luciana Genro (Psol)
quis saber de Marina sobre a formação de sua equipe econômica. Os dois
principais pensadores de seu entorno a respeito são Eduardo Giannetti e André
Lara Resende, de vertente neoliberal, que têm defendido redução drástica da
inflação e avaliado que há necessidade de medidas que podem provocar
desemprego.
Ao responder à questão,
Marina não falou sobre essa questão e disse apenas que reconhece a necessidade
de manter conquistas econômicas e sociais dos últimos vinte anos. “O problema é
a política que essas pessoas defendem”, advertiu Luciana. Essa conversa de unir
todo mundo eu já vi em 2002 com o Lula, e o resultado foi um governo
comprometido com o capital. Para fazer uma nova política é preciso enfrentar
interesses. Se tu não tiveres condições de enfrentar o capital financeiro,
nunca vai fazer uma nova política.”
Por fim, Marina foi
provocada por Luciana a respeito da mistura entre religião e política - a
candidata do PSB é integrante da Assembleia de Deus e tem posição contrária a
mudanças em temas de cunho moral, como aborto e união homoafetiva. A candidata
do PSB pediu que a oponente não a rotulasse por suas crenças pessoais. (Rede
Brasil Atual)
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