04 setembro 2014

Demarcar campos é preciso

Menos adjetivos, mais realidade concreta

Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo

Campanha eleitoral, como todo embate na sociedade humana, combina concretude com alegoria, jogo de cena. Afinal, palavras são mais bem acolhidas se vestidas de plasticidade. Não fosse assim, não existiriam os poetas, nem os bons oradores.

Mas há dois desvios, digamos assim, recorrentes em campanhas eleitorais que ferem os ouvidos e mais confundem do que esclarecem. Um, a teimosia em “desconstruir” o adversário com rotulação depreciativa, desqualificando-o. Outro, a adjetivação excessiva ou mesmo a tergiversação para esconder ou borrar a percepção do eleitor sobre a essência do que se debate. Vale dizer, para obscurecer o real conflito entre projetos opostos – via de regra diametralmente opostos.

A desconstrução do adversário mediante juízo de valor pejorativo, ao invés da crítica fundamentada, desgraçadamente muda o jogo, em situações em que a agressão ultrapassa os limites do bom senso e, assim, mesmo, reverberada à exaustão prela grande mídia, ganha fórum de verdade para posteriormente se revelar falsa. O atual senador Humberto Costa, na campanha eleitoral de 2006, crescia um ponto percentual/dia em intenções de voto para governador, disputando diretamente com Mendonça Filho, do DEM, vindo em terceiro lugar Eduardo Campos. Vítima de absurda acusação de comprometimento com o escândalo dos sanguessugas, assim denominado o caso do desvio de verbas federais destinadas à saúde através de ardiloso esquema de aquisição de ambulâncias, quando na verdade tinha sido ele o denunciante, despencou rapidamente na preferência do eleitorado e amargou a derrota. Adiante, plenamente inocentado, teve a oportunidade de resgate da sua honra e do seu prestígio ao se eleger senador. Mas ficou sequela irreparável no processo democrático.

No segundo caso, a tergiversação através de frases de efeito e conceitos genéricos, atualmente a marca do discurso da candidata da Rede, Marina Silva, à semelhança do quem fizeram no passado Janio Quadros e Fernando Collor, causa igual dano, na medida em que contribui para dificultar o discernimento do eleitor sobre a natureza dos projetos políticos em confronto. Marina tenta fazer valer a ideia de que o que está em causa, na atual disputa presidencial, é a opção maniqueísta entre “bons” e “maus” – e não entre os projeto de desenvolvimento nacional em construção desde Lula e continuado por Dilma versus o risco de retrocesso sobre a base do retorno as fundamentos da economia dominantes no período de FHC. Crescer com inserção social, incremento da produção e do emprego, com valorização do salário e do poder de compra do trabalhador ou retornar à financeirização da economia, sob o primado do “mercado”, com arrocho fiscal excessivo, desemprego e exclusão. Aí está a questão central da peleja neste instante – um polo representado por Dilma, o outro polo pela própria Marina, alçada à condição de candidata após a tragédia que vitimou Eduardo, e de pronto empalmando o seu ideário (e não o do PSB) e desbancado Aécio Neves, do PSDB.

Menos adjetivos, mais realidade concreta se impõe como consigna necessária ao amplo debate de ideias que deve marcar esses exatos trinta dias que antecedem o primeiro turno do pleito.

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