04 setembro 2014

Para além do maniqueísmo diversionista

Dois projetos antagônicos, sem tergiversação

Luciano Siqueira, no portal Vermelho www.vermelho.org.br

A disputa presidencial alcança fase nova com o movimento de placas tectônicas que coloca Dilma Rousseff e Marina Silva como principais concorrentes, enquanto o tucano Aécio Neves desce ladeira abaixo. Toma corpo, então, o confronto entre dois projetos antagônicos – ainda que a grande mídia e os arautos da oposição procurem obscurecer, reduzindo o embate às aparências, bem ao estilo da candidata da Rede, para quem o jogo de palavras se converte em pedra de toque do seu discurso.

O fato irrecusável, entretanto, está no programa apresentado pela oposicionista, passivo de análise sob muitos ângulos, destacadamente o compromisso com os banqueiros privados nacionais e estrangeiros em instaurar a tão sonhada (por eles) autonomia do Banco Central; a redução significativa de investimentos na exploração do petróleo e gás da camada do Pré-Sal (golpe direto no futuro mediato da infraestrutura, da educação e da saúde) e o realinhamento do País nas relações internacionais – este, fator de enfraquecimento do Brasil na cena mundial.

Na verdade, por estas e outras, e pelo comportamento errátil da candidata da Rede, que procura se adequar a cada público como o líquido ao recipiente, a tática eleitoral mais adequada da oposição é justamente evitar o aprofundamento das diferenças.

Referências às conquistas sociais dos últimos doze anos, desde Lula e no governo Dilma, em comparação com a regressão do período FHC são recusadas como “coisa do passado”. O crescimento com inclusão social é desqualificado pelo desempenho recente do PIB e – pasmem! – pelos humores negativos do chamado “mercado”. Como se não tivesse valor o fato singular do Brasil transitar na atual crise sistêmica mundial com taxas de desemprego em torno de 5%, com valorização da renda média do trabalhador e com continuada expansão do mercado de consumo.

Dilma enfrenta condicionantes externos adversos à economia brasileira apostando em nossas próprias potencialidades. Compra a queda de braço com o setor rentista e defende o emprego e a produção. Aponta para mais investimentos estratégicos em infraestrutura, para alavancar a economia; e para a solução do financiamento da educação e da saúde, qualificando a inclusão social.

Marina, por seu turno, presa aos dogmas neoliberais que lhes são ministrados por Lara Rezende e Gianetti, experts em financeirização da economia, arrocho fiscal a todo custo e convivência fria com o desemprego, sinaliza claramente para a abordagem do chamado tripé macroeconômico - meta de inflação, câmbio flutuante e política de superávit fiscal – dentro dos rigorosos limites dos governos FHC. Entretanto, em sua fala, insiste em distinguir a política entre “bons” e “maus”, numa falsa visão maniqueísta do enfrentamento dos problemas da Nação. Ao mesmo tempo, proclama ojeriza aos partidos políticos, com os quais teria que se relacionar caso viesse a ser eleita.

Esse filme já passou em nosso País: Jânio Quadros e Fernando Collor diziam a mesma coisa. As consequências todos sabemos.

Daí, na atual fase da peleja eleitoral, cabe sim explicitar as diferenças antagônicas entre os dois projetos encarnados por Dilma e Marina. Para esclarecer aquele que decidirá a parada – o eleitor.
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