A campanha do segundo turno assume um caráter acirrado e o desfecho ainda é imprevisível. Mas a tomografia da situação favorece Dilma. As três coisas mais importantes desta fase são, em ordem de importância, a mobilização da base social em campanha para convencer os indecisos, o programa de TV dos candidatos, no mesmo sentido, e os debates na TV pondo em confronto direto os candidatos.
Por Walter Sorrentino*, no Vermelho
Dilma leva notória vantagem em todas as três. A primeira não depende dela diretamente, depende de nós todos que a apoiamos; a segunda está diretamente sob orientação dela e do comando de campanha. A terceira sim, depende diretamente e solitariamente do desempenho dela.
A campanha desatada por Dilma em todo o país é formidável. Quem tem uma visão de conjunto sabe que são milhares e milhares de eventos cotidianos mobilizando forças políticas, sociais, intelectuais e morais bastante vasta e mais ampla que no primeiro turno. Melhor dizendo, despertou sentimento de urgência para manter e ampliar as conquistas.
Aécio, em uma palavra, não tem como se contrapor a isso na mesma medida, malgrado os panfletos das grandes revistas semanais que só cristalizam o ódio já existente contra Dilma e nada acrescentam.
O programa de TV de Dilma tem uma orientação extremamente acurada. Dilma se dirige à sua base social diretamente, chamando à reflexão sobre as conquistas alcançadas e propondo novos passos. Nada ficou a descoberto e sem resposta: o rumo da economia mantendo o propósito de emprego e renda, o fim da impunidade para responder à corrupção. Melhor que isso, amplia seu discurso, dirigindo-o diretamente aos novos segmentos médios alavancados por seu governo. A chave é evidenciada: serviços públicos de qualidade e universalidade na saúde, segurança, infraestrutura, educação. Tem o reforço de Lula que, como se sabe, tem saldo extremamente positivo para agregar votos.
Aécio, ao contrário, teve que se defender quanto ao desvendamento do caráter de sua candidatura, de seu programa e insistir no tema da continuidade dos programas sociais. É dura a vida dos tucanos para se desfazer da marca de cortes sociais, ajustes fiscais draconianos, combate à inflação mediante arrocho e desemprego. No tema corrupção, nada há que justifique diferenciação de essência: Dilma é inatacável desse ponto de vista, tucanos tem o rabo sujo igualmente, como parte do sistema político brasileiro. Ele não vai e não pode ir ao âmago da questão, posto em evidência por Dilma: uma reforma política com o fim do financiamento corporativo das campanhas.
Os debates da TV chegam a um clímax. Dilma foi firme ao desvendar o sentido da candidatura de Aécio no sentido político, econômico e social. Mais que isso, revelou facetas do tucano como homem público e persona que o eleitorado não conhecia. Mantendo uma posição altiva e levando o debate ao terreno político, vai explicitando também algo pouco conhecido: Aécio tem falhas morais muito importantes como persona política. Nepotismo, improbidade e-ou falta de moralidade na coisa pública com negócios de família, dirigir alcoolizado sem se prestar a cumprir a lei, mesmo o registro jamais contestado de agressão à sua companheira, ainda não enfrentado por ele.
Aécio teve que optar entre o menor de dois erros políticos: ir para o ataque igualmente ou permanecer na defensiva. No SBT ele optou pelo primeiro. Substitui o tique nervoso do sorriso sarcástico pela agressividade direta contra a presidenta, até com falta de respeito. Dificilmente ganhou algum voto a mais, só pregou para os convertidos ao antipetismo, para estancar a hemorragia. O erro consiste em que Dilma é suficientemente conhecida em suas qualidades e características, não será “desconstruída” com tais manobras, enquanto Aécio é um desconhecido em boa parte do país, ainda hoje, mormente no Nordeste. Por isso, a tática adotada não amplia de nenhum modo seu eleitorado – embora agressiva, é essencialmente defensiva.
Uma pregação anticorrupção posta em termos morais, “eles contra nós”, com um republicanismo pretenso e hipócrita de considerar que tucano não tem bico sujo, só exacerba o ódio contra as forças que hoje governam e tem teto baixo para novas aderências. Porque, no fundo, do que se trata é de modificar as instituições do país. Quanto à economia, exacerbar que “o país parou” não tem penetrância suficiente para contrastar o cotidiano de vida dos mais vastos estratos sociais do país.
Nos fundamentos, o debate que realmente atinge os estratos cujo voto se disputa é esse: a economia, no sentido de seguir avançando qualidade de vida e perspectivas e futuros para todos os brasileiros, e as mudanças progressistas nas instituições conservadoras do Estado brasileiro. No mais, era e é muito lícito supor que, na gesta por superar as profundas desigualdades sociais e regionais constituídas no país desde sempre, o ciclo para promover desenvolvimento com inclusão social poderia e poderá mesmo durar décadas.
No regime democrático fala-se em alternância de governantes; mas a questão maior em disputa é de rumos, não de pessoas ou partidos. A polarização existente na disputa política não é fruto do acaso ou de manobras espertas, e sim de campos e rumos políticos em confronto com programas históricos no Brasil. A questão hoje e mais uma vez é se se quer manter o rumo para que essa obra seja completada. Isso os tucanos não querem, mas vão ter que engolir – o mais provável ainda hoje é uma nova vitória de Dilma. Mesmo no equilíbrio das pesquisas, o viés resultante é pró-Dilma, como se disse acima, favorecida em todos os três aspectos da campanha mencionados. A ver.
*Médico paulistano. Membro do Comitê Central desde 1988, e desde 2002 secretário nacional de Organização.
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