06 outubro 2014

Governador comunista

Flávio Dino assume o governo com o povo do Maranhão
A festa da vitória da eleição de Flávio Dino ao Governo do Maranhão começou cedo. Logo nas primeiras urnas, o resultado favorável confirmava as pesquisas e a movimentação nas ruas. Mas o candidato esperou até que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o declarasse eleito, no primeiro turno, com o dobro de votos do segundo colocado, para que ele comemorasse. Primeiro, em uma coletiva à imprensa; depois com carreata até a Praça Maria Aragão para agradecer ao povo.
Por Márcia Xavier, de São Luís*

“Vamos fazer um governo bom, belo, simples, com pé no chão, e que é revolucionário por tudo isso. Um governo que vai garantir que o Estado caminhe na direção correta. Romper com o patrimonialismo que canibaliza os recursos públicos; enfrentar a corrupção, usando os recursos públicos na justiça social; tirar o estado das páginas policiais; e enfrentar os maus indicadores sociais do Maranhão”, disse o novo governador do Estado na coletiva à imprensa.

Em tom emocionado e sob aplausos, Flávio Dino agradeceu a todos “a nossa vitória grandiosa, e não por nós que estamos aqui, mas pelos aqui não estão; pelas quebradeiras de coco, quilombolas, pescadores, camponeses, trabalhadores rurais, conselheiros tutelares, pelas pessoas que eu vi no Maranhão sem dentes, sem ter o que calçar, sem ter o que comer, que moram em casa de taipas”.

Nesse momento, diante de uma plateia emocionada, ele também emocionou-se, às lágrimas, sendo interrompido por aplausos. Ao retomar a fala, insistiu: “Por essas pessoas, a nossa vitória é grandiosa; e por essas pessoas, que nos trouxeram até aqui, não vou esquecer isso, momento nenhum, a voz das ruas vai continuar comandando o Estado.”

Flávio Dino garantiu aos maranhenses que eles terão um governador humano, gente, que é igual a todo mundo, que defende a igualdade e que superou todos os limites. “Eu superei o maior golpe que um pai pode receber ( ele perdeu o filho Marcelo, de 13 anos) e eu superei para estar aqui. Recebi vários abraços, mas falta um, mas eu tô aqui porque cada menino que eu abraço no Maranhão é o meu filho que eu abraço. É a oportunidade de governar o estado, transformar a vida do meu povo, mas é também a oportunidade de homenagear o meu filho, que está comigo.”

Em seguida, desculpou-se pelo tom confessional, mas alertou que o governante tem que ser uma só pessoa porque o político é a emanação do que a pessoa tem no coração. “Eu sou uma pessoa assim, que vive intensamente as suas emoções, e é com esse espírito humano, solidário, comunista, socialista, que eu vou governar o Estado; com misericórdia, não a que acomoda, mas a que abraça o povo e o nosso Estado vai se orgulhar do governo que terá”, declarou, sendo saudado com gritos de “Viva Flávio Dino”.

Com dez partidos - Após suas palavras iniciais, o novo governador do Maranhão respondeu as perguntas dos jornalistas. Sobre o segundo turno das eleições presidenciais, entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), ele disse que vai consultar os nove partidos que o apoiaram, e mais o PT, porque apenas cartorialmente o PT estava lá (apoiando o adversário do PMDB, Edinho Lobão), mas na prática estava conosco. “Nós vamos reunir os partidos e a minha posição vai depender da consulta aos partidos”, disse, acrescentando que a união de tantos partidos em torno do governo, lhe dá tranquilidade, por que além de contar com o senador eleito (Roberto Rocha), do PSB), terá maioria na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa.

Flávio Dino disse que suas primeiras medidas como governador eleito é garantir transição eficaz e produtiva, “para que possamos assumir a máquina do estado no dia 1º de janeiro, quando vou apresentar um conjunto de medidas. A nossa preocupação central é com a transparência e a probidade, para mostrar ao povo do Maranhão que temos um governador honesto, e vamos apresentar medidas nesses sentido.”

Ele disse ainda que vai anunciar medidas atinentes ao seu programa de governo que são de melhoria das políticas sociais. “Vamos ter um pacote de providência para as 20 cidades com menor IDH (índice de Desenvolvimento Humano) e quando terminarmos o governo nós não teremos mais nenhuma cidade com esse IDH.” O novo governador espera que “a governadora (Roseana Sarney) nos ajude naquilo que é um dever legal, que é prestar as informações para que a gente possa implementar as políticas que o Maranhão precisa. A nossa equipe, que nesta semana eu vou designar, seja recebida pela equipe que a governadora designe para dialogar conosco em favor do Maranhão.”

Festas e homenagens

Ao final da entrevista, o novo governador convidou a todos para acompanhá-lo na passeata e na festa popular que aconteceu na Praça Maria Aragão. “É uma militante histórica (do PCdoB) do nosso Estado e foi onde Jackson Lago comemorou sua vitória e faço questão de lá comemorar a nossa vitória, aos pés de Gonçalves Dias, sob a proteção da Nossa Senhora dos Remédios e olhando para a baía de São Marcos.”

Durante a coletiva, Flávio Dino fez questão de homenagear duas pessoas importantes na mesa. O pai, Sálvio Dino, de 82 anos, a quem ele saudou como personagem política, por ter sido cassado com 32 anos por ser comunista. “Nós vencemos, meu pai, 50 anos depois. Espero que nunca mais em nosso país uma campanha de inspiração fascista seja movida contra o nosso país. O nosso partido é legal, constitucional, tem direito a existir e essa é uma mensagem para todos os fascistas do país: “O Partido Comunista vai governar uma cidade. É uma novidade na nossa democracia e vai ser muito bom para o nosso país, vivenciar uma experiência democrática, popular e em sintonia com os pobres.”

Ele também homenageou “uma lenda vida”, como fez questão de se referir ao líder camponês Manoel da Conceição. “Um líder camponês, defensor da reforma agrária, educador popular, que nunca perdeu a utopia e ao homenageá-lo, homenageio a todos que vieram antes de mim, pela tua luta camponesa, pela tua firmeza, por ser fundador do PT, ter integrado a primeira executiva nacional do PT, para mostrar que a aliança de nove partidos tem mais um – o PT, representado por Manuel”, disse Flávio Dino.

Resposta das urnas

O secretário de Organização do PCdoB, Walter Sorrentino, presente à coletiva, e que foi lembrado pelo novo governador em seus agradecimentos, avalia que a eleições de Flávio Dino “é uma grande vitória política para o Brasil, para Dilma, pro Maranhão e pro PCdoB. Em 92 anos de história é a primeira eleição de um governador oriundo de uma legenda dos comunistas, que tantos serviços prestou ao nosso país”, afirma.

Segundo ele, a eleição de Dino representa um conjunto de coisas, desde o Estado ser libertado dessa oligarquia, que representa uma grande ajuda para fazer avançar o Brasil nesse novo governo e novas ideias de Dilma; como grande ajuda ao povo do Maranhão, porque vai representar uma emancipação e a possibilidade de alinhar o desenvolvimento social e humano que ocorreu no Brasil esses anos todos com o povo do maranhão.

Sobre a campanha difamatória da oposição ao candidato Flávio Dino e ao seu Partido – o PCdoB, Sorrentino diz que a resposta está nas urnas. “O povo deu resposta a esse tipo de coisa. O PCdoB está a 92 anos lutando por um projeto nacional de emancipação, soberania, autonomia, democracia. Ninguém deu tanto sangue pela democracia como o PCdoB, era falta de argumento do adversário”, afirma.

E explicou ainda que “o Flávio Dino não é um candidato dos comunistas apenas. Ele expressou as forças de toda uma coligação antioligárquica. Juntou forças díspares - do ponto de vista nacional - para fazer essa grande obra história, que é um marco luminoso na história do Maranhão e do nosso país.”

*Enviada especial do Portal Vermelho a São Luís do Maranhão
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