01 dezembro 2014

A arte de estar só

Cena urbana
Milena Abreu

Na mesa do lado, um casal e dois adolescentes. Os adolescentes comem sem dar um piu. Também sem dar um piu, o casal, cada um com um telefone na mão, e com a cara uma mais feia que a outra. Às vezes, dão uma espiada no que o outro digita.
De repente, ela chama os meninos para uma foto. Fazem uma cara menos feia e voltam a teclar. A foto, certamente para o Facebook, deveria ter a legenda, dizendo a verdade: “eu não queria estar aqui”, suponho. 

Chega outro casal, com duas menininhas. Gêmeas. Devem ter uns três anos. O pai vai para a fila pedir o sanduíche. A mãe levanta da mesa carregando no braço uma das meninas e vai até ao pai. A outra pequena se desespera e grita pelo pai: "Paaaaiii!!! Paaaaiii!! Não quero ficar só, não quero ficar só!" Vem de lá a mãe e recrimina a pequena: "Minha filha! Você está só, está?" 

Coitada da mãe. O que será que ela entende por estar só? Ah pequena, quando descobrir como é bom ficar só... 

Havia também casais felizes, adolescentes excitados com suas conversas, seus times, suas namoradas. Porém só agora pensei, será que alguém também me notou ali sozinha? Estão tão ocupados com suas vidas... Acho que não.

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