11 dezembro 2014

Uma crônica para descontrair

Egoísmo cibernético

Luciano Siqueira

Sim, gente amiga, sinto-me tomado de um reprovável egoísmo na relação com as novas tecnologias, que em muito facilitam a minha vida, mas de mim recebem impaciência, incompreensão e mesmo desdém. 

Explico: faço bom uso de tudo o que me agiliza a comunicação diária, mas me recuso a dominar mecanismos de funcionamento e orientações constantes de manuais de instrução ou mesmo páginas de ajuda na internet. Sempre recorro a alguém que sabe tudo, como meus auxiliares Flávio e Zanzul que, quando não sabem, advinham ou descobrem. O egoísmo está precisamente aí: recebo os benefícios do Facebook, Twitter, Wathsaap, Instagram e de alguns aplicativos que me interessam, e não lhes dou a atenção devida.

 (Parecido com o caso aqui do meu vizinho de assento num voo Recife-São Paulo, que insiste em falar do seu infortúnio amoroso, indiferente ao meu evidente enfado. Meio que arrependido (assim me parece), reconhece ter recebido o melhor dos cuidados, o carinho mais envolvente, a solidariedade a flor da pele, a compreensão mesmo nos instantes mais tensos, porém foi incapaz de retribuir com o mais elementar gesto de solidariedade humana: ouvir a parceira. Tudo havia recebeu e nada ofertou, confessa.)

Efetivamente, reconheci, não tenho "escutado" alertas e dicas que aparecem diariamente na tela do meu iPhone, simplesmente ignoro. Com o risco de pagar caro por siso.

Leio agora que 38 milhões de brasileiros usam o Wathsaap e que aquele ruído chato tem infernizado muita gente, a ponto de gerar crise nervosa, ataque agressivo a aparelhos celulares e coisas assim. Isto porque a geringonça não para, tal a ânsia das pessoas em se falarem por ali. 

E falam de tudo. Como o integrante de um desses grupos em que me incluíram à revelia, que solenemente anunciou: "faz calor, tomarei um banho, dormirei nu..." - e eu, sem o menor interesse em saber como o dito cujo estaria na cama, se solitário ou acompanhado, se vestido ou como Adão, antes que outros entrassem naquele streep tease virtual, caí fora. 

E para não copiar o gesto tresloucado da garçonete inglesa que espatifou seu celular sobre a mesa de um cliente, estressada sob o tiroteio de plimplins emitidos pelas redes sociais, pus no modo silencioso todos os aplicativos que manejo. E antecipo meu pedido de desculpas se tenho demorado a responder mensagens que vocês me enviam: não é por desatenção; é porque a agenda é pesada e o meu juízo pouco para combinar o trabalho, a leitura, o lazer e o diálogo cibernético interativo. Faço o que posso. 

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