Adalberto Monteiro, no portal da Fundação Maurício Grabois
O vento bravo que impulsionará para frente o novo governo Dilma é a mobilização do povo, e a consciência crítica, criativa e construtiva da esquerda e dos setores progressistas.
O primeiro ano do novo mandato da presidenta Dilma Rousseff tende a transcorrer sob o mesmo signo da polarização e do acirramento da campanha da qual nasceu. Ao apelo republicano do diálogo da presidenta reeleita, o consórcio oposicionista responde exacerbando o tom do confronto e da pregação golpista.
Derrotada, a direita neoliberal, primeiro, lançou suspeição sobre a apuração dos votos, já rechaçada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), depois, pediu a rejeição da prestação de contas da campanha da candidata vitoriosa e, para não deixar dúvidas de que segue o credo golpista de Carlos Lacerda, rosna a todo instante a bravata do impeachment. Contra Getúlio Vargas vociferava Lacerda. “Não pode ser candidato. Se candidato, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar.”
O chamado “terceiro turno” não é outra coisa senão isto: movimentação golpista da direita neoliberal para obstruir ou impedir que a presidenta eleita governe. Este renitente golpismo, no momento, se alimenta da Operação Lava Jato da Polícia Federal que investiga escândalos de corrupção na Petrobras. A grande mídia oculta o empenho da presidenta no combate à corrupção e à impunidade, e dissemina um enredo tão ficcional quanto inescrupuloso que tenta responsabilizá-la pelos ilícitos que estão sendo apurados na estatal.
É sob esse bombardeio que não cessa que a presidenta Dilma se desdobra para dar cabo de duas tarefas iniciais e capitais para seu novo governo poder dar a partida e, progressivamente, ganhar velocidade na realização dos compromissos firmados com o povo brasileiro.
Primeiro. É preciso construir a maioria política no Congresso Nacional, sem o que não se governa, sobretudo com uma matilha que uiva o golpismo a toda hora. Além dessa maioria institucional, de coalizão inevitavelmente heterodoxa, com um “centro político” crescentemente instável, é igualmente imperativo edificar essa maioria na sociedade – hoje bem estreita, como revelaram os números finais da eleição. Para tal, deve se aproveitar o relevante papel desempenhado pela esquerda e pelos movimentos sociais na campanha e elevar a organização e a ação desse bloco tanto para sustentar o governo quanto para impulsioná-lo à realização das reformas democráticas.
Segundo. O país precisa retomar o crescimento econômico, aumentar a produção de riqueza – sem o que é impossível aumentar a escala da inclusão social, da distribuição de renda, da geração de empregos. O contexto é esse. O quadro da economia mundial não tem a agudeza do auge da grande crise capitalista, mas ainda está longe de algum tipo de bonança. No âmbito doméstico, há o desafio de elevar os investimentos somando o aporte do setor público ao do setor privado, sobretudo deste último, que, atraído pela política de juros altos e paralisado por uma chamada “crise de confiança”, reluta em comparecer.
Nestas circunstâncias, com esta correlação de forças, com estes desafios é que a presidenta compõe a equipe ministerial e dá início ao seu novo governo. É preciso conter e romper o círculo de fogo da sanha golpista da oposição. Impõe-se dividi-la e neutralizar alguns de seus setores. Constituir um ministério com nomes que tenham representatividade política e social. E, regendo imperativamente tudo isso, o inarredável compromisso da presidenta Dilma de que seu novo governo será um quadriênio de lutas por mudanças e reformas democráticas.
O vento bravo que impulsionará para frente o novo governo Dilma é a mobilização do povo, e a consciência crítica, criativa e construtiva da esquerda e dos setores progressistas. Portanto, é preciso vigilância crítica – o estado de zelo e atenção quanto a cada movimento do novo governo. Só não vale o desencanto prematuro ou julgamento definitivo a um governo que apenas dá seus primeiros passos.
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