O (mau) cheiro do fascismo
Sérgio Barroso, no site da
Fundação Maurício Grabois
O formidável,
corajoso e impactante artigo do jornalista britânico John Pilger, “Por que a
ascensão do fascismo é de novo a questão” [1] reforça as contribuições mais
recentes de intelectuais e militantes marxistas que passaram a alertar sobre a
ascensão de correntes e partidos neofascistas. Ademais de pouco assinalada
transmutação do termo fascismo e seus signos.
Segundo
Pilger, a partir mesmo de 1945, mais de um terço dos países membros das Nações
Unidas (69 países) foram objeto de algumas ou de todas as seguintes formas de
intervenção nas mãos do fascismo moderno dos Estados Unidos: “foram invadidos,
seus governos derrubados, seus movimentos populares esmagados, suas eleições
subvertidas, seu povo bombardeado e suas economias despojadas de toda proteção”
sem falar em sociedades perversamente destroçadas por “sanções”. Milhões de
mortos, conforme o historiador também britânico Mark Curtis; e para isso e em
cada um dos casos, uma grande mentira foi preconcebida. Afeganistão, Iraque,
Líbia, Síria...
Matanças sem
fim
Acusando
irrefutavelmente os crimes imperialistas nucleados e perpetrados desde então
pelos Estados Unidos da América, Pilger lembra que “o elemento comum no
fascismo” ontem como hoje, “é o assassinato em massa”. Exemplifica a invasão
norte-americana do Vietnã onde havia suas “zonas de fogo livre”, de “contagem
de corpos”, seus “efeitos colaterais”. Descreve que no estado de Quang Ngai –
Pilger foi correspondente de guerra e esteve lá – “muitos milhares de civis
(‘gooks’) foram assassinados pelos Estados Unidos”. Nos casos do Laos e do
Camboja, avalia ter havido “o maior bombardeio aéreo da história produziu uma
época de terror até hoje marcada pelo espetáculo de crateras feitas à bomba, as
quais, vistas de cima, parecem monstruosos colares”.
“Hoje”,
sentencia o jornalista: “a maior campanha isolada de terror do mundo envolve a
execução de famílias inteiras, de convidados em casamentos, de enlutados em
funerais”, - as vítimas de Obama. E recorrendo a reportagens do The New York
Times, diz que Obama faz a sua seleção a partir de uma “lista de morte”
apresentada a ele todas as terças-feiras na Sala da Situação da Casa Branca.
Assim, sem qualquer insinuação de legalidade, Obama “decide quem vai morrer e
quem vai viver”. Ordenando o uso dos drones, “mísseis [helfilre] calcinam suas
vítimas e enfeitam a área com seus restos mortais”. Cada bombardeio é retratado
na tela de controle remoto como um “bugsplat” (inseto esmagado).
O cerco à
Rússia de Putin
Pilger
denuncia vigorosamente ainda os acontecimentos recentes da Ucrânia. Recorda o 2
de maio de 2014, em Odessa, quando 41 pessoas de etnia russa “foram queimadas
vivas na sede sindical”, com a polícia apenas assistindo. Dmytro Yarosh (chefe
do partido “Setor de Direita”) então saudou o massacre como “outro dia brilhante
na nossa história nacional”. A mídia norte-americana e britânica classificou o
massacre de “tragédia horrível”, mas resultante de “confrontos” entre
“nacionalistas” (neonazistas) e “separatistas” (pessoas que recolhiam
assinaturas para um referendo por uma Ucrânia federal). O porta-voz da
oligarquia financista Wall Street Journal condenou as vítimas: “Incêndio mortal
provavelmente provocado pelos rebeldes”, declarou o Governo. Obama felicitou ao
governo provisório neonazista por sua “moderação”. O objetivo dos EUA e da OTAN
(Organização do Tratado do Atlântico Norte) é o cerco e desmembramento da
Rússia e seu entorno.
Avanço
neofascista na Europa
A sistemática
conduta neofascista e criminosa dos EUA se entrecruza agora com crise sistêmica
e global do capitalismo, iniciada em 2007-2008 e que persiste a provocar por
toda parte ambientes de descrédito, desesperança, desemprego, aumento de
suicídios, do consumo de drogas pesadas e crescimento de doenças mentais, bem
como crescentemente esquentando um caldo de cultura favorável ao crescimento de
idéias e movimentos neofascistas. O caso da Europa é pródigo em exemplos, que
vão desde a razoável representação parlamentar do partido “Aurora Dourada”,
(abertamente nazista, da Grécia); também o Partido Nacional Democrata Alemão
(NPD), declaradamente nazista, em 2014 elegeu pela primeira vez um deputado ao
Parlamento Europeu obtendo 1% dos votos; na França o crescimento da
extrema-direita (neofascista), a Frente Nacional que teve 25% dos votos ao
parlamento europeu etc. [2]
Denunciar,
combater e derrotar os golpistas no Brasil!
Desnecessário
repetir sobre a insana conduta da direção golpista que insuflou abertamente as
manifestações do 15 de Março em nosso país. Elas seguiram uma linha de ataques,
desrespeito, mentiras e calúnias contra a Presidenta da República, ensaiando um
teatro obscurantista, e nunca visto nas terras de Tiradentes, Bonifácio e
Osvaldão. O que se somou às claras com a histeria fascista de grupelhos e
degenerados das camadas médias da sociedade brasileira a clamar por
“intervenção militar”.
Tudo isso tem
sido dirigido e conduzido ideologicamente pela horda de bandidos em que se
transformaram os apátridas Aloísio Nunes, Aécio Neves, FHC, Álvaro Dias,
notadamente, todos bajulados diuturnamente por uma mídia apodrecida. O primeiro
declarou a mídia querer “sangrar até o fim” a Presidenta Dilma; o segundo
escreveu em nome de vários golpistas um protocolo (apócrifo) de pedido de
impeachment, logo recusado pelo Ministro Zavascki (STF); o terceiro forjou
“entrevista” para dizer que uma pesquisa que encontrara queda na popularidade
da Presidenta significaria “o descrédito” e perda “das condições de governar”;
o quarto, conhecido oportunista desonesto e reacionário, surfou na idéia de a
tal pesquisa colocar na ordem do dia o impeachment.
Como revelou o
renomado cientista político Moniz Bandeira, em recentíssima entrevista, [3] à
pergunta: “o governo da Venezuela tem denunciado a participação de Washington
em tentativas de golpe. O mesmo poderia estar acontecendo em relação ao
Brasil?”, respondeu ele: “Evidentemente há atores, profissionais muito bem
pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de
ONGs, a serviço da USAID, Now Endowment for Democracy (NED) e outras entidades
americanas”. E prossegue o professor Bandeira: “As demonstrações de 2013 e as
últimas, contra a eleição da presidente Dilma Rousseff, não foram evidentemente
espontâneas. Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda
luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi
eleito presidente da República”.
Que ninguém se
iluda: esses golpistas declarados ao promover a campanha pelo seqüestro do
mandato da Presidenta da República juntam-se aos fascistas e transpiram a sua
fedentina.
NOTAS
[1] Ver:
http://johnpilger.com/articles/why-the-rise-of-fascism-is-again-the-issue
[2]
Concretamente, em 25 de Maio passado, nas eleições para o Parlamento Europeu a
extrema-direita venceu as eleições na França, Grã-Bretanha e Dinamarca, e
cresceu na Áustria Hungria e Grécia.
[3]
Entrevista ao site do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados,
17/03/2015.
Leia
mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
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