Jornalismo precário
Jaime
Sautchuk, no Vermelho
É inegável que a grande mídia brasileira passa por severa crise, com
crescente perda de credibilidade e vulgarização completa do que poderíamos
chamar de jornalismo. Não se trata apenas da campanha aberta contra o governo
federal e o PT, o principal partido de sua base. A indigência está em todos os
campos.
O que vemos é um absoluto descaso pelo rigor da informação nas coberturas mais triviais e a contínua parcialidade nos temas globais. É visível o despreparo dos profissionais que cuidam das coberturas e das edições, que parecem treinados apenas para direcionar a informação. A impressão que se tem é de que esses órgãos não estão nem aí pro ouvinte, telespectador, navegador ou leitor.
Nas redes abertas e fechadas de rádio e TV proliferam os programas de entrevistas dirigidas, em que os entrevistados são escolhidos a dedo pra que falem o que o entrevistador gostaria de dizer. Nas reportagens, foi decretado o fim da investigação. O repórter só trabalha com informação de segunda mão, repassada por algum relatório de algum órgão público ou entidade.
Nas redes da net surgiu a categoria do blogueiro, já vulgarizado, que escreve o que bem entende, sem que haja proteção legal e judiciária das pessoas agredidas ou difamadas por mentiras. Não há o menor cuidado com checar informações ou mesmo conferir dados históricos.
É antigo o ditame de que “se os fatos não coincidirem com a opinião do editor de Veja, pior pros fatos!”. O mais grave, porém, é que essa visão de jornalismo prolifera feito praga na lavoura. Em matérias negativas sobre algum governante estadual ou municipal, por exemplo, é comum vermos a omissão do nome do seu partido, se for o PSDB.
Mas isso abarca também as notícias corriqueiras, do dia a dia, sem falar que a maior parte delas é incompleta e sequer trazem os cinco elementos clássicos, ou seja, o “quem, quando, como, onde e por que”.
E sempre com contagiante descuido. Nos últimos dias, em uma matéria sobre o pedido de canonização de Dom Helder Câmara, uma repórter chamou a CNBB de Confederação dos Bispos do Brasil, em vez de Conferência. Tudo bem, seria uma falha aceitável da foquinha, mas a matéria foi repetida por outros repórteres e até por um âncora de noticiário com o mesmo texto e o mesmo erro.
É claro, de igual modo, que a imparcialidade não existe, pois a escolha já começa na pauta e segue pelo vocabulário usado e as informações utilizadas. É comum ouvirmos repórter perguntar ao editor se essa ou aquela informação pode entrar. Com microfone aberto, na Globo, em matéria sobre o Lavra-Jato, o repórter pergunta “o nome do Aécio pode?” e ouve um sonoro não do outro lado.
Pois bem, o assunto rende, mas o importante é que o tema está em debate. E a única saída que podemos vislumbrar no horizonte é uma reforma urgente do sistema de comunicação social, que assegure a liberdade de imprensa e de expressão, mas preserve os direitos dos cidadãos e cidadãs e evite o monopólio, como se faz em muitos países, inclusive nos Estados Unidos.
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