Fatiar para reinar
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Em ambiente de crise e incertezas econômicas e
institucionais, as forças conservadoras na ofensiva, brotam todo tipo de
“solução” destinada a “aprimorar” a vida política e eleitoral. Sem limites.
Como a proposta do senador tucano José Serra, aprovada na
Comissão de Constituição e Justiça do Senado, destinada a obstruir todas as possibilidades
de renovação da representação político-partidária pela esquerda. À semelhança
da Europa no pós-guerra, quando se adotou o voto distrital como forma de deter
o rápido avanço dos partidos comunistas e socialistas.
Com argumentos falaciosos, como a redução do custo de campanhas
e uma melhor aproximação do eleito com o eleitorado (sic), a pretensão é fatiar
para reinar.
Estima-se que, em âmbito nacional, na eleição para deputados
federais, sendo o País dividido em 513 distritos, com 265 mil eleitores por
distrito, eleito apenas um deputado por distrito, cada uma dessas cadeiras
seria objeto de uma verdadeira campanha “majoritária”, disputada a peso de
ouro.
Por essa via, a correlação de forças na Câmara dos Deputados
permaneceria praticamente imutável, senão pioraria alargando mais ainda a representação
direta dos detentores do capital e reduzindo a representação popular.
Hoje, em torno de 270 deputados federais são empresários,
refletindo uma distorção absurda na representação parlamentar em dissonância
com o perfil da sociedade brasileira.
Partidos dependentes da elevação progressiva do nível de consciência
do eleitorado tenderia a minguar no parlamento. A despeito de disputarem palmo
a palmo o pleito, por exemplo, nos principais distritos de base urbana de um
estado, correriam o risco de não eleger ninguém.
Daí, praticamente se extinguiria a presença das minorias na
Câmara, em flagrante prejuízo da pluralidade no debate acerca dos rumos do
País.
Pela proposta do senador Serra o sistema distrital seria
aplicado já nas próximas eleições municipais.
Imagine o Recife dividido em 39 distritos. É óbvio que as
correntes políticas em presença não se lastreiam em base geográfica definida.
No máximo, candidatos de militância localizada em bairros, envoltos com os
problemas locais (legítimos e importantes), mas nada afeitos à abordagem dos
problemas da cidade de modo sistêmico, viriam a formar o parlamento municipal.
Além de esdrúxula, a proposta do senador Serra é mais uma
manobra diversionista em relação aos pontos verdadeiramente nodais de uma
reforma política de sentido democratizante, a supressão do financiamento
empresarial privado das campanhas.
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