O rádio e a antecipação da notícia
Luciano Siqueira, no Jornal da Besta Fubana
Fernando
Sabino diz numa de suas crônicas que o rádio entrou na residência dos
brasileiros pela sala de visitas e foi parar na cozinha, com o advento da
televisão.
Aqui
em casa, não exatamente na cozinha, no banheiro. Porém não relegado a uma
condição inferior, vez que é muito mais ouvido do que vista é a TV.
Desde
cinco horas da manhã, quando tomo o primeiro banho antes da caminhada matinal.
Ali, sempre presente, de domingo a domingo, anunciando os acontecimentos do dia
e difundindo comentários de tudo o que é gente metida a entendida nos mais
variados assuntos.
Testemunho
assim a importância do rádio na formação da consciência política do nosso
povo.
Não
só do rádio, mas dos meios de comunicação como um todo: a TV e os jornais, e
também os sítios na Internet, guardam uma relação simbiótica com o rádio, um
alimenta os demais e vice-versa.
O
rádio confirma ou antecipa a notícia. Dependendo da hora em que o
sintonizemos.
Na
madrugada, os jornais do dia já não terão tempo de registrarem o que ocorreu em
Estocolmo, Atenas ou Mossoró, naquele instante; mas o rádio sim, pois a
informação terá sido captada em tempo real, via Internet e de imediato
repassada aos ouvintes.
A
“antecipação” da notícia às vezes é precipitada pela ansiedade de quem a
transmite. Vira premonição. Como aconteceu com um jovem repórter da Rádio
Jornal, no Recife, em meados dos anos 80, quando eu exercia o meu primeiro
mandato de deputado estadual, colado às lutas populares em ascensão. Uma
espécie de plantão permanente, para o que desse e viesse.
Um
pé na Assembléia Legislativa e o outro nas ruas.
Foi
na ocupação do conjunto habitacional Montes Verdes, no Ibura. Transmissão ao
vivo. O repórter narra a chegada do Batalhão de Choque da Polícia
Militar, enviado pelo governador Roberto Magalhães, e o tumulto que se instala
– gritaria, corre-corre, choro de crianças, vozes exaltadas:
-
Há muita confusão, senhores ouvintes, pessoas podem ser feridas. Como sempre
acontece, o deputado Luciano Siqueira já se encontra no local e, segundo
lideranças comunitárias ouvidas pela reportagem, já teve um entrevero com o
capitão Viana.
-
Então ouça o depoimento do deputado – pede o locutor do estúdio.
-
Ainda não é possível. O deputado parece estar encoberto pela poeira que
se levanta no local do conflito, onde alguns policiais foram agredidos a
pedradas.
-
Ele foi agredido pelos policiais? É importante verificar isso.
-
Vamos verificar, vamos verificar... e dentro de alguns minutos ele dará
entrevista exclusiva para nossa emissora.
Mas
não tinha jeito de encontrar o deputado, que ouvia tudo pelo rádio do carro,
ainda se deslocando de casa para o bairro, agora o mais rápido que podia – para
cumprir o dever. E não frustrar o repórter e os seus ouvintes.
Ilustração: do site ourinhosnoticias.com.br
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