Tarifas bancárias pagariam toda a folha salarial
As tarifas bancárias cobradas
pelos oito maiores bancos do país nos últimos três anos subiram 169%,
percentual 8,6 vezes superior à inflação para o mesmo período, segundo apontou
a associação de consumidores Proteste. Apesar disso, a Federação Nacional dos
Bancos (Fenaban) apresentou uma contraproposta aos bancários que nem chega a
repor as perdas da inflação.
Por Dayane Santos, no
portal Vermelho
Nesta terça-feira
(20), representantes dos bancários em greve e dos bancos voltam à mesa de
negociações na tentativa de encontrar uma saída para o impasse e pôr fim à
greve nacional da categoria, que já está no 15º dia. Esta é a primeira vez que
grevistas e bancos se sentarão para negociar desde que a greve foi deflagrada,
no dia 6 de outubro.
Em entrevista
ao Portal Vermelho, o
dirigente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
e presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Vasconcelos, destacou
que a greve é uma das mais fortes dos últimos anos.
“São mais de 12 mil
agências paradas em todo o Brasil, só aqui na Bahia foram mais de mil agências
que aderiram ao movimento, com uma tendência de crescimento da mobilização em
razão da revoltante proposta apresentada pela Fenaban, que sequer repõe a
inflação do período, além de não tratar dos demais itens da nossa pauta”,
enfatiza o sindicalista.
A greve iniciou
após quase dois meses de intensas negociações, sem sucesso. Os bancos
apresentaram uma proposta de reajuste de apenas 5,5%, quando a inflação do
período foi de 9,88%.
A categoria
reivindica reajuste salarial de 16%, além de Participação nos Lucros e
Resultado (PLR), vale-alimentação e refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá.
Além disso, a pauta dos bancários inclui investimentos em segurança, ampliação
das contratações, fins das demissões, substituição dos terceirizados, combate
ao assédio moral e o fim das metas abusivas.
Mesmo em meio à
crise na economia brasileira, os bancos foram o setor que não deixou de crescer
este ano. Enquanto a indústria e o comércio, por exemplo, registraram recuo no
primeiro semestre, o lucro dos bancos bateu recordes. Somados, os ganhos dos
quatro maiores bancos cresceram mais de 40% no primeiro semestre, na comparação
com os primeiros seis meses de 2014.
“Não há crise para
o setor financeiro. Os bancos lucraram R$ 36 bilhões somente no primeiro
semestre”, saliento Augusto. E completa: “Só com recursos arrecadados com
tarifas cobradas de clientes, os bancos pagam toda a folha salarial e ainda
sobra. De modo que eles podem atender a nossa pauta que visa melhorar as
condições de trabalho e atendimento à população. É inadmissível que eles
não apresentem uma proposta digna para os seus funcionários, penalizando a população”.
Trabalhadores e população do mesmo lado da
corda - Para o sindicalista
bancário, os clientes também são vítimas da ganância dos bancos, que usa a
grande mídia para jogar a população contra o movimento grevista.
“Os bancos estão
entre os maiores patrocinadores da grande mídia brasileira. Não há um
telejornal, revista semanal e jornal de grande circulação que não tenha
patrocínio de um banco”, lembra.
E acrescenta: “A
responsabilidade pelos eventuais transtornos ocasionados pela greve é dos banqueiros,
que apesar dos lucros fabulosos negam-se a promover uma negociação séria. Não
queremos que a greve se prolongue por muito tempo, mas para isso, nossos
patrões devem apresentar uma proposta justa”.
Augusto pediu apoio
da população. “Pedimos a compreensão da sociedade porque enfrentamos o setor
mais poderoso da economia que desrespeita bancários e clientes. Estamos do
mesmo lado”, frisou.
Unidade e mobilização - Sobre a mobilização, Augusto Vasconcelos
salientou a unidade da categoria em todo o Brasil e que a campanha salarial
começou a ser preparada desde o primeiro semestre deste ano.
“Na Bahia, por
exemplo, foram dezenas de encontros regionais, realizamos a maior conferência
dos bancários do estado de todos os tempos, além de visitas em mais de mil
agências bancárias, 204 manifestações em Salvador e inúmeras assembleias, cuja
participação tem revelado um alto grau de envolvimento dos bancários com a
nossa luta, superando as ameaças de demissão e descomissionamento utilizadas
pela gestão das empresas visando enfraquecer a participação dos trabalhadores”,
denunciou.
Ele frisa que a
organização uma mobilização como essa em todo o Brasil não é tarefa fácil. “Do
Acre ao Rio Grande do Sul as realidades regionais são distintas, com a presença
de vários bancos diferentes e a presença de segmentos distintos dentro de cada
banco. Apesar disso, temos conseguido uma unidade impressionante que serve de
exemplo para outros trabalhadores mostrando que apesar das divergências é
possível lutarmos conjuntamente contra a ganância do capital”, afirma.
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