Quem é quem na política brasileira?
Aldo Arantes, no portal da
Fundação Maurício Grabois
O posicionamento sobre o financiamento de campanha por empresas é uma
importante questão para esclarecer quem é quem na política. E indica que na
política brasileira os sinais estão trocados.
Dados do TSE indicam
que os gastos de campanha em 2010 atingiram mais de 800 milhões de reais. E que
em 2014, alcançaram 5.1 bilhões, crescimento vertiginoso. Sendo que 95% destes
recursos provêm de poucas grandes empresas.
Fato
importante é que a grande maioria da sociedade brasileira se posicionou contra
o financiamento público por empresas. Pesquisa solicitada pela OAB e realizada
pelo DATAFOLHA, divulgada em junho deste ano, entrevistou 2.125 pessoas em 135
municípios de todas as regiões do país. Concluiu que 74% dos entrevistados são
contra o financiamento de campanha por empresas privadas. E 79%
considerou que o financiamento de campanha de empresas a partidos estimula a
corrupção.
Mas o dado
intrigante que revela que os sinais estão trocados na política brasileira fica
evidente em dois fatos. O primeiro diz respeito a uma pesquisa realizada com o
público presente nas manifestações realizadas no dia 16 de agosto, na Avenida
Paulista em SP, pelos professores Pablo Ortellado da USP, Esther Solano da
Unifesp e pela Pesquisadora Lúcia Nader da ONG Open Society.
Dos 405
entrevistados em toda a extensão da Avenida Paulista, três em cada quatro
pessoas - 75% - mesmo índice da pesquisa da OAB, se manifestaram contra o
financiamento de campanha por empresas.
Outro fato
revelador foi o resultado da votação em segundo turno, na Câmara dos Deputados,
sobre o financiamento de campanha por empresas.
Partidos como
o PSDB tiveram 42 deputados votando a favor e 4 contra. De um total de 53
parlamentares. O DEM teve 18 parlamentares votando a favor do financiamento de
empresas e um contra, de um total de 21. No entanto, o PT teve 60 votando
contra o financiamento de campanhas por empresas e nenhum votando a favor, nos
seus 66 parlamentares. E 13 parlamentares da totalidade da bancada do PCdoB
votaram contra.
Portanto, há
contradições profundas reveladas nestas pesquisas. Em primeiro lugar, dos que
se manifestaram na Paulista que, por um lado, exigiam o IMPEACHMENT da
Presidenta Dilma Rousseff e combatiam a corrupção. Por outro, uma das pesquisas
indica, eram contra o financiamento de campanha por empresas, causa fundamental
da corrupção política. Setores ponderáveis desta manifestação pregavam o ódio e
a intolerância.
A outra
contradição se expressa no resultado da votação na Câmara dos Deputados.
Aqueles que se arvoram em defensores da ética foram os que votaram maciçamente
na continuidade da influência do poder econômico nas eleições. E os que são
tidos como os responsáveis pela corrupção são aqueles que votaram contra a
causa fundamental da corrupção. Isso, evidentemente, não exclui o fato de
que entre os que votaram pela manutenção do financiamento sejam todos
antiéticos.
A Coalizão
pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, composta por mais de cem
entidades, entre as quais a OAB, CNBB, Movimento de Combate à Corrupção
Eleitoral, Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político,
UNE, CONTAG, CTB E CUT, apresentou à Câmara dos Deputados um projeto de reforma
política democrática que não foi levado em conta na votação, apesar de terem
sido coletadas mais de 800 mil assinaturas de apoio.
Esta
proposição defende, além da adoção do sistema proporcional que venha dar
identidade política-ideológica aos partidos e fortalecê-los, a substituição do
financiamento de campanha por empresas e o financiamento democrático de
campanha (público e de pessoa física em montante limitado).
Considera que
a questão do financiamento de campanha por empresas é decisiva para uma reforma
política democrática. Primeiro porque o poder econômico captura o poder
político, elegendo uma representação em que sua maioria defende os interesses
de uma minoria da sociedade. A maioria da sociedade, entre os quais os
trabalhadores urbanos e rurais, as mulheres, os jovens, os negros, ficam
totalmente subrepresentadas. Daí que as votações não atendem às aspirações da
maioria. Este quadro mostra que os sinais estão trocados em relação ao que
ocorre na sociedade brasileira.
Todavia há que
se ter claro que a ética individual exige que medidas sejam tomadas para
colocar na cadeia, corruptos condenados pela Justiça. Com amplo direito de
defesa e não transformando a delação premiada, que é indício de prova, em
desmoralização indiscriminada de pessoas que contribuíram para a mudança da
sociedade brasileira.
Todavia a
ética social indica que é necessário compromisso com a transformação da
sociedade. E hoje os que lutaram na época da ditadura pela transformação
estrutural da sociedade brasileira e que hoje continuam lutando, são tidos como
antiéticos. E muitos que estiveram ao lado da ditadura e ao lado de poderosos
interesses, se dizem os defensores da ética.
Para ter uma
posição justa diante da confusão criada no País, é necessário adotar uma
consciência crítica. Se distanciar das emoções, criadas falsamente pela grande
mídia e por poderosos grupos econômicos que querem se assenhorar do Governo, e
adotar uma postura que analise os argumentos da oposição e da situação.
Não se deixar
levar pelo discurso único que defende o retrocesso econômico, social e
político, para adotar esta consciência crítica. A força da onda no sentido do
retrocesso, que chega ao absurdo de pedir o retorno dos militares e prega o
ódio, a violência e a discriminação, decorre do crescimento de uma onda
obscurantista que o povo brasileiro -- e particularmente a juventude -- tem que
reverter para o bem do Brasil.
Em suma, a
capacidade de construir um ponto de vista próprio só é possível com análise
serena e rigorosa do que está por trás da polêmica e da confusão gerada no
Brasil.
Considero que
os ataques realizados contra a Presidenta Dilma, ao ex-Presidente Lula e ao PT
decorrem mais do que foi feito de positivo do que por erros cometidos.
A questão de
fundo é que o modelo político em que o poder econômico formata o poder político
está esgotado. É necessário aprofundar a democratização do poder que passa por
uma reforma política democrática, para abrir caminho para as reformas agrária,
urbana, tributária, além da democratização dos meios de comunicação.
A juventude
brasileira deve ser exigente, crítica, e procurar adotar uma posição
equidistante entre políticas radicalizadas e polarizadas, para pensar de forma
serena o futuro que almejam.
ALDO ARANTES,
ex-deputado federal Constituinte pelo Estado de Goiás, secretário da Comissão
Especial de Mobilização para a Reforma Política do Conselho Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil.
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