Uma ameaça que vem de longe
Luciano Siqueira, no Blog de
Jamildo/portal Ne10
A notícia eu vi agora - e não
gostei. Chamado de Robot Taxi, projeto de duas empresas de tecnologia
japonesas será testado já em 2016.
No lugar do motorista, um robô.
Nada
contra a inovação tecnológica, muito ao contrário. Quanto mais se aplique a
ciência em modos de facilitar nossa vida cotidiana, melhor. Mais ainda quando
se trata de otimizar nosso tão esgarçado tempo.
Mas
proclamo minha resistência prévia a essa inovação japonesa.
Não
me imagino entrando num táxi e, ao acionar algum comando (talvez um aplicativo
em meu celular), ser transportado, incontinenti, ao destino. Em silêncio.
Privado do bom diálogo com o taxista, essa prática consolidada em nossa
cultura.
Pelo
taxista a gente sabe tudo. Ou quase tudo - da crítica (ou elogio) ao prefeito
ao relato de tentativas de assalto, passando pelos impropérios contra o
treinador do seu time predileto (caindo na tabela) e assuntos vários.
Certa
vez, a caminho do Aeroporto dos Guararapes, rádio do carro ligado, o tema era a
crise mundial, recém-desencadeada nos EUA e na Europa. Perguntei sobre os
reflexos sobre a praça no Recife:
-
Menos gente tomando táxi?
-
Por enquanto, não. Ruim mesmo é ir de um canto a outro.
-
Como assim?
-
Depois que chamaram "trânsito" de "mobilidade urbana" acho
que ficou pior...
-
Não é a mesma coisa?
-
Acho que não. Fica mais difícil a gente entender o que falam sobre o assunto.
Tentei
clarear algumas ideias, incluindo algumas melhorias verificadas no Recife. Na
dúvida, voltei à crise econômica mundial, dando meu recado anticapitalista.
-
Mas olhaí, doutor, essa crise não é daqui não, é dos americanos.
-
Dos americanos?
-
Foi o que o presidente Lula disse: "é da terra dos homens de olho
azul".
E
assim, mais uma vez, constatei a habilidade de Lula na comunicação com o povo.
O cidadão comum entende e repassa o que ele diz.
Dos
nossos taxistas, aqui e em qualquer parte desse imenso Brasil, a gente tanto
aprende como se diverte. Desde que tenha ouvidos para escutar.
Feito
o taxista de Porto Alegre que me assegurou coibir maledicências do seu papagaio
de estimação com banhos frios no escuro. É tiro e queda, garantiu: o bichinho
para de falar palavrões.
Um
agradável antídoto ao estresse quando o tempo é curto e o trajeto demorado.
Por
isso resisto à novidade nipônica. Mesmo que aqui se ponha um robô falante.
Quero não. Preciso ouvir gente. Pois, como o poeta Manoel de Barros, "uso a
palavra para compor meus silêncios".
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