O ano que teima em não terminar
Luciano Siqueira, no portal Vermelho
O hábito é
antigo - compartilhado com milhões de brasileiros. Antes, rasgar papel, desvencilhar-se
de tudo o que já não tem importância; com o computador e a internet, deletar.
Aqui e acolá
algo é preservado, mesmo na dúvida: terá mesmo importância?
Afinal,
trata-se de virar o ano e recomeçar - como diz o poeta Drummond, "aí entra
o milagre da renovação/e tudo começa outra vez, com outro número/e outra
vontade de acreditar/que daqui para diante tudo vai ser diferente."
Gozando pouco
mais de uma semana de repouso na praia, com a família, tiro um tempinho para a
faxina cibernética. E me deparo com um ano que teima em não terminar: são
tantas as coisas infindas em 2015, que inevitavelmente ingressarão em 2016 com
lugar cativo.
Os impasses na
economia, por exemplo: muita coisa anotada, pensada de moto próprio e
principalmente de leituras variadas, permanecerão arquivadas. Servirão ao
acompanhamento da crise.
O imbróglio
político, cuja solução parece se arrastará alguns meses adiante - vide o
processo de impeachment e a marcha de Eduardo Cunha para o cadafalso -, impõe a
guarda de notas que mesclam os acontecimento presentes com registros de nossa
atribulada História republicana.
A crise de
agora tem muito do DNA de crises passadas. O conflito de classes assume
coloridos modernos, porém na essência é o mesmo.
Como dizia
Ariano Suassuna, é o velho embate entre a turma de Tiradentes contra a turma de
Joaquim Silvério dos Reis. Projetos de nação díspares postos em causa, sob o
manto da peleja entre a oposição retrógrada e antinacional versus o governo
constitucional da presidenta Dilma.
Uma vez mais,
em defesa da democracia, juntam-se em frente ampla e plural muito mais de que
os que apoiam o governo. Democratas que o criticam e até a ele se opõem topam a
parada anti-golpe.
Sim a História
aqui se repete e se reinventa. Afinal, ainda pelos versos de Drummond, "O
último dia do ano/não é o último dia do tempo./Outros dias virão..."
Que sejam dias
melhores, com a retomada do crescimento e a fortificação das conquistas
sociais.
Resta-me,
assim, desejar a vocês que me honram com a sua paciência um Ano Novo rico em
realizações e paz.
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