O desenvolvimentismo para todos de Nelson Barbosa
Luís Nassif, no GGN
No dia 15 de setembro de 2014, no 10o Fórum de Economia da Escola de
Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, Nelson Barbosa apresentou o
trabalho “Principais Desafios Macroeconômicos de 2015-2018.
Trata-se de uma proposta de governo, pensada de forma muito mais
abrangente e contemporânea que a tal Ponte para o Futuro de Michel Temer. Na
época causou bom impacto no meio acadêmico e julgava-se que seria o fio
condutor da política econômica do segundo governo Dilma Rousseff.
Poderá se tornar agora.
O trabalho é composto de duas partes.
Na primeira, Nelson desmonta alguns mitos, como o sistema de metas
inflacionárias e a ideia de que ajuste fiscal depende apenas de cortes. Traz
uma visão muito mais complexa e sistêmica, mais amarrada aos níveis atuais de
desenvolvimento político e social brasileiros.
Metas inflacionárias e câmbio
1. Metas
inflacionárias
Controlar a inflação sem depender da apreciação recorrente do real. Diz
ele que uma taxa de câmbio estável e competitiva é crucial para a a
diversificação produtiva da economia e elevação sustentável dos salários.
No trabalho ele faz uma avaliação do sistema de metas inflacionárias,
com as seguintes conclusões:
· O Banco Central cumpriu a meta em 11 dos
últimos 15 anos.
· Em 8 dos 11 anos nos quais a meta foi
cumprida, houve redução da taxa real de câmbio.
· Nos 3 anos em que a meta foi cumprida
sem redução da taxa de câmbio real – 1999, 2012 e 2013 – o BC contou com a
ajuda de fatores não usuais de política macroeconômica.
2. Câmbio
flutuante
Não deve existir regra formal para operações cambiais em unm sistema de
câmbio flutuante. Na situação atual (2014) está claro que o BC gastou munição
exagerada, e muito antes do necessário, para controlar o câmbio. O melhor seria
deixar o câmbio se ajustar às novas condições da economia.
3.
Desafio fiscal e político
Defende a necessidade de recuperar a capacidade de geração de resultados
primários recorrentes, “no valor necessário para a manutenção da estabilidade
fiscal e compatível com o atendimento das demandas da sociedade sobre o
Estado”. Trata-se de incluir um viés fundamental em qualquer sociedade
democrática moderna: as demandas sociais.
4.
Resultado primário e papel do Estado.
O resultado primário deve ser suficiente para manter a dívida líquida
estável em relação ao PIB/ Mas pode ser obtido com diferentes valores de carga
tributária. O tamanho da carga tributária depende das demandas da sociedade
sobre o Estado e da eficiência do Estado em atender a tais demandas.
Logo, o desafio fiscal não se resume a simplesmente aumentar o resultado
primário.
Os 12 trabalhos fiscais
Em seguida, Nelson relaciona 12 desafios dentro de uma visão moderna da
questão fiscal:
1. Diminuir a perda fiscal com preços regulados,
especialmente energia e combustível.
2. Continuar a reduzir a folha de pagamento da
União em % do PIB.
3. Estabilizar as transferências de renda também
em % do PIB.
4. Continuar a aumentar o gasto público real per
capita com educação e saúde.
5. Reduzir gasto com custeio não prioritário em
% do PIB, com melhora de gestão mais TIC.
6. Aumentar investimento público em transporte
urbano e inclusão digital.
7. Reduzir o custo fiscal dos emprestimos da
União a bancos públicos.
8. Encaminhar solução para as dívidas dos Estados
e Municípios sem comprometer o equilíbrio fiscal.
9. Realizar reforma do PIS-COFINS sem perda de
receita.
10. Completar a reforma do ICM sem redução do resultado primário.
11. Aperfeiçoar e criar uma saída suave do Supersimples.
12. Aumentar ainda mais a transparência do gasto tributário
federal.
Investimentos privados e gastos
públicos
A solução do impasse atual, diz Nelson, é permitir o ajuste de preços
relativos – inclusive a taxa de câmbio e a TIR (Taxa Interna de Retorno) das
concessões – para estimular o investimento e aumentar a produtividade. E
direcionar o espaço fiscal prioritariamente para a continuação da inclusão
social, via transferência de renda e serviços públicos universais, o modelo de
desenvolvimento para todos.
Na época, já tinha chamado a atenção do mundo acadêmico pela visão
estruturada de um projeto de estabilidade com desenvolvimento.
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da atualidade: http://migre.me/kMGFD
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