13 dezembro 2015

Interesse de quem?

A Lava Jato e a opinião pública

Com o passar do tempo, a operação comove menos os brasileiros. Apenas a parcela antigovernista continua "muito interessada"
Marcos Coimbra, na Carta Capital
Apesar dos desdobramentos espetaculares ao longo da semana, a Lava Jato já viveu dias melhores. Para seus formuladores, um dos mais importantes pilares da operação é a ativação da opinião pública. De acordo com eles, somente por meio da mobilização dos cidadãos, em apoio à ação saneadora que pretendem realizar, serão vencidas as resistências do sistema político e das instituições “tradicionais”. Daí o casamento com os grandes grupos de comunicação, que imaginam ser os instrumentos pelos quais vão alcançar seus intuitos. Juízes, promotores e agentes policiais produzem as notícias, a mídia as “aquece”, mobiliza-se a “opinião pública” e as “autoridades conservadoras” são forçadas a ceder.
Sem discutir os méritos do projeto e suas motivações, interessa sublinhar as consequências da passagem do tempo em sua eficácia. No curto prazo, pode ser elevada. No médio, nem tanto. No longo, provavelmente baixa.
Na sociedade contemporânea, em que os indivíduos são permanentemente bombardeados por informações e mensagens, é difícil a qualquer emissor manter a atenção do público. Especialmente em assuntos a respeito dos quais há sólidos estereótipos. Quanto mais cada nova informação somente reitera algo “conhecido” e quanto menos consegue se reapresentar como “nova”, menor é o espaço dado pelos cidadãos à medida que transcorre o tempo.
Pesquisa do Instituto Vox Populi feita no começo de novembro sugere como essa tendência afeta a Lava Jato. Ela mostra como o impacto da operação na opinião pública se reduziu significativamente, depois de haver começado como algo que motivava a maioria dos brasileiros. Claro está que a quase totalidade dos entrevistados apoia sua realização, tanto quanto concordaria com qualquer medida de moralização e combate à corrupção. Somos iguais ao restante da população mundial e extraordinário seria se alguém se manifestasse a favor da corrupção e contrariamente a seu combate.
A respeito de quanto se interessavam pela Lava Jato no início (sem especificar uma data), 67% dos entrevistados responderam “muito”. Dos 33% restantes, 14% afirmaram ter tido “algum interesse”, 17% “não tinham qualquer interesse” e 2% garantiram que “nunca tinham ouvido falar” da operação.
Em relação à situação de agora, os números são diferentes. A proporção daqueles que permanecem “muito interessados” caiu para 26%, menos da metade do levantamento anterior. Os desinteressados mais que dobraram e passaram a ser maioria, 42%. Aqueles com “algum interesse” são 30% e restam os 2% que “nunca ouviram falar” no assunto.
A experiência internacional com pesquisas de opinião sugere que resultados desse gênero devem ser considerados com cautela, pois não são raros os entrevistados que “negociam aparências”. Dizem-se interessados a respeito de temas sabidamente relevantes, por suporem que tal comportamento se espera de “cidadãos conscientes”.
Seria possível dizer, portanto, que o “público atento” à Lava Jato representa hoje, no máximo, cerca de um quarto da população. O resto, que somaria no mínimo 75%, tem pequeno ou nenhum interesse. De qualquer maneira, a parcela “atenta” permanece expressiva, ainda que em queda.
Os entrevistados “atentos” não são iguais aos demais do ponto de vista das opiniões políticas e inclinações eleitorais. Na avaliação do governo Dilma, quase 90% o consideram “ruim” ou “péssimo”. Na intenção de voto na próxima eleição presidencial, a resposta mais frequente é “ninguém, branco ou nulo”, seguida, a distância, por qualquer nome. Não deixa de ser coerente: os “muito interessados” na Lava Jato tendem a ser mais críticos do que a média em relação ao governo e mais descrentes dos “políticos” como um todo.
O problema para os responsáveis pela operação é o fato de a redução do tamanho e as idiossincrasias ideológicas do segmento que permanece “atento” colocarem em xeque a estratégia de usar a opinião pública como ferramenta para forçar o sistema político a ceder. Obriga a gestos crescentemente espetaculosos para atrair a maioria, que perdeu ou nunca teve interesse. Empurra seus orquestradores a estreitar a aliança com os grupos controladores dos meios de comunicação e, à medida que aumenta sua dependência em relação a eles, mais os fragiliza.
Pode ser paradoxal, mas em vez de indício da força, os últimos acontecimentos são sinais dos problemas da operação.
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