Nuances da arte e da política
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Quando preso político, em Itamaracá, em
meados dos anos 70, eu arriscava o diálogo constante com companheiros poetas e
contistas a partir da leitura dos seus originais. E se seguiam intermináveis
diálogos sobre conteúdo e forma e possíveis abordagens de um mesmo tema – embora
estivesse, como ainda estou, despido de qualquer conhecimento da teoria
literária.
Nossos companheiros autores se
alimentavam – diziam – dos comentários de alguém que lhes transmitia uma
percepção meramente intuitiva, despida de filigranas próprias dos críticos
profissionais.
Os anos passaram e continuo leitor,
ouvinte e observador posto na condição de cidadão comum, cultivando um prazer
quase simplista, em matéria de arte.
Vejo um filme, por exemplo, atento ao
enquadramento da cena, a uso da luz e coisas assim. Movido pelo meus próprios
critérios – ou, melhor dizendo, pela minha simples e talvez rasteira percepção.
Imaginem nesses tempos em que a
telemática chegou às artes, incorporando formas e técnicas nunca dantes experimentadas!
Como a nanoarte, que manipula
elementos em escala atômica, explorando ondas provocadas pelo som da voz,
espécie de coreografia molecular.
Ou a bioarte e a arte transgênica, que
propõem experiências incríveis, como modificar geneticamente um coelho para
que, dependendo do nível de exposição à luz, torne-se fluorescente.
E a arte da política? Essa, ao
contrário, exige muito mais do que a intuição. Sempre e em qualquer
circunstância, exige uma boa formação cultural e teórica, além da intuição e da
sensibilidade que se adquire com a vivência.
Com o anotei de outra feita, aqui a
coreografia é a das vaidades; e mais do que das vaidades, dos interesses de
classe, velados ou explícitos.
Nada ocorre por mero acaso. A política
é a face institucional da vida como ela é – e a vida, numa sociedade como a
brasileira, é movida pelos conflitos de classes, por mais camuflados que estes
se apresentem.
Por isso, é preciso ir além das
aparências; perscrutar as verdadeiras intenções de cada um dos atores e grupos
envolvidos numa batalha política – como o pleito de outubro vindouro.
Serão eleições municipais, fenômeno
político essencialmente local, mas com irrecusável repercussão sobre as
eleições gerais de 2018. Resultados de agora pesarão na correlação de forças
futura.
Daí a necessidade de se distinguir o
joio e o trigo, tendo como crivo propostas programáticas para a cidade.
Em tempo de desgaste – muito além do
merecido, diga-se – dos políticos e dos partidos, impõe-se a qualificação do
debate de ideias, a partir mesmo das tratativas das alianças, que tomarão corpo
logo após o carnaval.
Tomara. Para a melhoria do processo democrático
no País.
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