O tamanho da crise
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Não se trata de combater a visão
parcial e distorcida da crise brasileira, que a exime de qualquer relação com a
crise global – como costumam fazer, com propósito político explícito,
oposicionistas e seus arautos na mídia hegemônica.
Também não é o caso de minimizar
as contradições, ineficiências e equívocos próprios, historicamente considerados
e postos à tona na crise atual.
Cabe,
sim, chamar atenção para o agravamento da crise social global e suas
implicações.
Às
vésperas do Fórum Mundial, reunido em Davos, na Suíça, a ONG inglesa Oxfam
informou, com base em estudos recentes, que há cinco anos a riqueza acumulada
por 388 multimilionários era equiparada com a quantidade de capital que a
metade mais pobre da população mundial possuía.
Hoje,
essa relação despencou para 62 pessoas – uma fenomenal concentração de riqueza!
(Com
um detalhe: dois brasileiros integram esse grupo e, ao que se sabe, acumularam
suas fortunas especulando no mercado financeiro).
É
gente que se beneficia da finacneirização da economia capitalista em toda
linha, fenômeno que se acentua nas últimas décadas – e que produz as chamadas
bolhas financeiras, alimentadas pelo capital fictício de que falava Karl Marx.
Não
é diretamente a exploração do trabalho humano a principal fonte dessas fortunas
acumuladas.
Uma
contradição intrínseca ao sistema, que em perspectiva gera objetivamente a sua falência.
É
certo que o capitalismo tem em suas crises cíclicas uma característica própria,
uma espécie de perverso mecanismo de realimentação.
Mas
igualmente certo que, nas últimas cinco décadas, essas crises têm encurtado o
espaço de tempo entre uma e outra.
Com
um agravante: a crise atual – estrutural, sistêmica e sem sinais de superação
|á vista -, deflagrada em 2008, tem dimensão muito maior e mais grave do que a
de 1929, até então considerada a segunda maior crise do sistema capitalista.
Outro
aspecto desse cenário sombrio é a previsão de que, na esteira do incremento de
novas tecnologias ao sistema produtivo – a chamada quarta revolução industrial, movida pela inteligência artificial,
robótica, impressão 3D, nanotecnologia e outras inovações – serão liquidados
cerca de cinco milhões de empregos nos próximos cinco anos.
Isto acontecerá, sobretudo, nas
economias mais desenvolvidas e nos países emergentes, incluindo o Brasil.
Pode um sistema que despreza o
trabalho humano e, guiado cegamente pela ânsia do lucro financeiro infinito,
sobreviver infinitamente?
A resposta é não. Daí serem
fundadas as previsões de que nas próximas décadas um novo surto de
transformações sociais se instalará no mundo.
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