O MPF se tornou um partido político?
Luís Nassif, no Jornaal GGN
Já são três citações sobre Aécio Neves na Lava Jato.
A primeira foi quando o doleiro Alberto Yousseff passou informações
detalhadas sobre as propinas de Furnas para Aécio. O Procurador Geral da
República Rodrigo Janot mandou arquivar.
Ontem, o Ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal)
acatou novo pedido de Janot e arquivou o inquérito aberto para apurar as
menções do delator Ceará a Aécio alegando contradições nos depoimentos.
Para ser arquivado, é porque foi aberto um inquérito. Só se soube do
inquérito quando do anúncio do arquivamento. Sigilo absoluto, enquanto vazavam
informações sobre o senador Fernando Collor (até objetos íntimos foram alvo de
vazamento) e sobre o deputado Eduardo Cunha.
Em casos similares, de contradições nos depoimentos, como em relação ao
senador Lindberg Farias, ocorreu o oposto. Paulo Roberto Costa disse que o
ajudou através de Yousseff. Em delação, Yousseff garantiu que nunca viu o
senador. O caso tornou-se público e Janot ordenou que o inquérito prosseguisse.
Dois pesos, duas medidas.
Ao mesmo tempo, Janot mantém na gaveta da PGR o inquérito aberto contra
Aécio em 2010, por lavagem de dinheiro em uma conta em Liechtenstein em nome de
uma offshore com sede em Bahamas. E empenhou-se pessoalmente em derrubar o
inquérito aberto contra o senador Antonio Anastasia.
Enquanto isto, a Lava Jato trata como escândalo instalação de torres de
telefonia em Atibaia e os procuradores do Distrito Federal vazam inquérito
sobre os financiamentos do BNDES, sem ouvir o outro lado, escandalizando até
informações banais – como o fato de uma cliente contumaz do BNDES, como a
Odebrecht, liberar financiamentos em prazo inferior ao de um novo cliente.
Na primeira fase, a Lava Jato identificou brilhantemente todo o esquema
de corrupção, inclusive prendendo os corruptos. Foi um período saudado pela
recuperação de parte do dinheiro roubado.
Na segunda fase, perdoou um a um os delatores que aceitaram entrar no
jogo político – que consistia em delatar os políticos do lado de lá e nada
falarem sobre os do lado de cá.
A luta contra a corrupção foi um álibi para a luta política. Agora
poderão voltar à sua vida normal, como Yousseff depois da delação premiada no
caso Banestado.
Lição que fica: você pode praticar tranquilamente sua corrupção, desde
que aceite fazer o jogo político dos seus inquisidores.
O caso Fifa
Sobre a cooperação internacional nas investigações do FBI sobre a FIFA.
1. A Globo é peça
central nos episódios, pois fechou os maiores contratos de transmissão com
Ricardo Teixeira e João Havelange. Em todos os países, a emissora e a empresa
de marketing formam um todo único. É o caso da empresa de J.Hawila com a Globo.
2. Os Ministérios
Públicos da Argentina, Uruguai, Chile, México há mais de um ano enviam
regularmente informações ao FBI para apuração dos crimes da FIFA, dentro do
modelo da cooperação internacional,. O Brasil é o mais atrasado dos países da
América Latina, o que tem provocado estranheza no próprio FBI.
3. O MPF solicitou ao
FBI as informações levantadas sobre a conexão brasileira do escândalo. No Rio
de Janeiro, uma juíza de primeira instância barrou o envio e ordenou a
devolução do material. Esse episódio ocorreu há um ano. Até hoje o MPF não
logrou derrubar a determinação.
O que separa países civilizados de repubiquetas é o exercício da
isonomia, a noção de que a aplicação da lei pressupõe o primado da isonomia.
Pergunto: por acaso o Brasil tornou-se uma republiqueta, para aceitar
passivamente essa quebra total de isonomia?
Pode ser que sim. Pode ser que não.
Mas não dá mais para esconder-se das críticas sob o argumento de que há
interesses ocultos da parte dos críticos. Pouco a pouco, a imagem do poder
defensor da cidadania, dos direitos difusos, o avalista dos tratados
internacionais, vai se diluindo e abrindo espaço para uma imagem pouco
dignificante, dos que se deixam seduzir pelo excesso de poder.
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mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD
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