Tudo faz sentido em tempo de crise
Luciano Siqueira, no portal Vermelho
Se tudo vale
a pena quando a alma não é pequena, como nos ensina o poeta Fernando Pessoa, em
tempo de crise uma folha sequer não se move sem que algum significado
tenha.
A eleição do
líder da bancada do PMDB na Câmara, ontem, por exemplo: vale dois pontos, um a
favor das forças que se colocam pela governabilidade e pelo sepultamento das
tentativas de impeachment da presidenta Dilma; outro contra o desgastado
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que esperneia entre à execração pública e
manobras regimentais, na tentativa de permanecer no cargo, ou pelo menos, conservar
seu mandato.
Pesa também,
e muito, o desnudamento crescente das intenções político-partidárias contidas
nas atitudes do juiz Sérgio Moro e sua força tarefa de delegados e
procuradores, que já não escondem que seu alvo principal é o ex-presidente Lula,
mesmo em prejuízo da alardeada intenção de "varrer a corrupção
institucional no País".
Nessa mesma
linha de fatos relevantes no conturbado cenário político e econômico, está a
agenda do PSDB, posta como pré-condição para votar com o governo "em algumas
proposições". Ou seja, em matérias em que, de um modo ou de outro, o
governo ceda diante das pressões do "mercado", favoreça o rentismo,
reduza direitos trabalhistas ou arranhe o interesse nacional.
O ex-diretor
geral da ANP, Haroldo Lima, em artigo publicado aqui no Vermelho ("Preferência no
pré-sal: justo para o Brasil, bom para a Petrobras"), situa com clareza
os reais interesses que estão na base das pressões para que se alterem os
padrões de exploração do petróleo e do gás da camada do pré-sal.
No atual
quadro político e econômico brasileiro e nas presentes condições em que se
encontra o mercado mundial do petróleo, é admissível fazer mudanças nas
condições legais para a exploração do pré-sal. Mas é indispensável fixar
limites, tendo o interesse nacional como fio condutor, assinala Haroldo.
Aí também se
trava o jogo duro que, em última instância, permeia toda a cena política
brasileira: o confronto entre projetos nacionais distintos e antagônicos.
Lidando com
um Congresso Nacional majoritariamente conservador, e ainda pelejando para
conquistar uma governabilidade minimante razoável, o governo tem o dever de
negociar praticamente em todas as esferas, preservando, entretanto, seus
compromissos fundamentais com a nação e o povo, reafirmados no último pleito
presidencial.
Uma equação
nada fácil, que exige descortino, firmeza de propósitos e flexibilidade tática
extrema.
Tudo tem o
seu peso, sim; e não há nada que não valha a pena, desde que se mude o que for
necessário mudar para seguir adiante, porém sem perder o rumo.
Valioso esse seu posicionamento. repassarei
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