01 março 2016

Baixo nível

A farra da desfaçatez
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Na Carta Capital, o jornalista Maurício Dias afirma que "a sanha da Lava Jato desconstrói a política e sacrifica as virtudes em nome dos vícios... A bandeira do extremado moralismo autoritário, no entanto, só ilude os cidadãos incautos, porque, neste caso, a Justiça está a serviço da política partidária.”
Uma síntese desse instante da vida nacional. 
Tudo contra a corrupção, parece ser a consigna destinada a unir todos contra os supostos dilapidadores dos recursos públicos. 
Supostos, nesse caso, porque as investigações comandadas pelo juiz Moro e difundidas - nos aspectos que interessam politicamente - via canais diretos com a grande mídia e em articulação com o ministro do Supremo, Gilmar Mendes (este de há muito assumido publicamente militante antipetista), não separa o joio e o trigo, deliberadamente se mistura numa só panela a contravenção e a captação de recursos para campanhas eleitorais então permitidas legalmente
A desfaçatez emerge sem limites.
Justamente os que até antes do governo Lula punham debaixo do tapete atos de corrupção e contavam com um procurador-geral que passaria à história como "engavetador geral da República", agora esbravejam contra a substituição do ministro Eduardo Cardozo, da Justiça, pelo jurista baiano Wellington Cesar, enxergando aí uma "tentativa de impedir que prossigam as investigações contra o presidente Lula"!
Baixou-se o nível do debate de um modo - que eu saiba - sem precedentes em nossa História recente. 
Ora, basta que se vá ao Google e pesquise o verbete "quinze maiores escândalos do governo FHC" para constatar a dimensão ilimitada da hipocrisia agora reverberada diuturnamente.
A maioria parlamentar conjugada com a proteção midiática deu tranquilidade aos tucanos e aliados para seus maus feitos, sem que nada pudesse ser apurado. 
Sequer quando a revista Carta Capital transcreveu conversa telefônica em que o próprio presidente da República interferia no processo de privatização das empresas de telecomunicação em favor de um grupo de sua predileção. 
Nem CPI, nem reportagens investigativas.
Que os corruptos sejam punidos exemplarmente, de acordo com a lei. Mas o uso da Justiça para fins de disputa política partidária é um escárnio. Um desrespeito à Constituição. Um ataque deplorável ao estado de direito. 
Aos que têm consciência do que se passa e sempre pugnaram pela democracia cabe enfrentar a situação adversa exercendo o sagrado direito à resistência.

Ir mais fundo nas camadas sociais verdadeiramente interessadas na superação da crise e na retomada do crescimento econômico socialmente inclusivo. Erguer a voz em toda parte. Travar o bom combate.
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