Sob o combate de ambas
as partes, entre os que tentam o impeachment da presidenta Dilma e os que se
opõem, com motivações que extrapolam posicionamentos acerca do governo (a
defesa da democracia antes de tudo), correm um conflito real de interesses de
classe. É o que procura demonstrar Marcio
Pochmann no artigo (publicado no portal Brasil 247) que transcrevo abaixo,
que deve ser lido e debatido com atenção.
A direita como inimiga de classe
Para
o Brasil, as décadas de 1980 e 1990 foram as piores de todo o século 20, pois
foram marcadas pela decadência econômica e social. Com o projeto nacional
desenvolvimentista vigente entre os anos de 1930 e 1980 sendo interrompida pela
equivocada política de ajuste exportador do último governo da ditadura militar
(1964 - 1985), a trajetória brasileira foi a de regressão tanto da 8ª para a
13ª posição no ranking das economias mais ricas do mundo como da 13ª
colocação para a 3ª na lista de países com maior desemprego global entre os
anos de 1980 e 2000.
A
incapacidade do governo Sarney (1985-1990) de retomar as linhas gerais da
industrialização abriu caminho para o desastre da desindustrialização
estabelecida com primazia pelo neoliberalismo dos governos Fernandos (Collor e
Cardoso). Somente na década de 2000, com a ascensão dos governos liderados
pelo PTismo que a economia brasileira conseguiu simultaneamente
convergir – em pleno regime democrático – o crescimento econômico com a inclusão
social.
Aproveitando-se
de uma conjuntura econômica externa favorável, a nova correlação de forças
políticas decorrente da vitória eleitoral de 2002 permitiu elevar
consideravelmente o poder de compra dos salários e o nível do emprego,
diminuindo a concentração de renda e expandindo o mercado interno. Inversamente
à histórica trajetória pregressa, observou-se que a inclusão socioeconômica do
segmento de baixa renda favoreceu decisivamente o sentido da homogeneização do
padrão de consumo.
Frente
a isso, não demoraram a aparecer alguns sinais de mal-estar por parte da elite
brasileira acostumada ao exclusivismo do seu padrão de consumo diferenciador de
classe. Para agravar, a tradição do seu mimetismo fez crescer ainda mais inveja
por conta do avanço das bases ideológicas do Tea Party estadunidense.
Acontece
que desde o ano de 1999, com as tentativas de relançar a economia estadunidense
com reformas inclusivas do governo Obama, expandiu, em resposta, uma ala mais
liberal (Tea Party) do Partido Republicano, cuja ideologia é de extrema-direita
e receituário econômico assentado em forte restrição fiscal. Guardada a devida
proporção, os questionamentos ao programa econômico inclusivo dos
governos PTistas por parte da oposição crescentemente de direita
ganharam mais forte guarida com as opções de ampliação do papel do Estado
frente à crise capitalista de dimensão global iniciada em 2008.
A
piora do cenário econômico externo concomitante com a transição da política
econômica de demanda dos anos 2000 para a de oferta desde 2011 fragilizaram o
potencial desenvolvimentista brasileiro. Com a nova derrota eleitoral imposta
em 2014, parte da oposição não aceitou o resultado, abandonando a posição de
adversária política para a de inimiga de classe.
Em
síntese, a mudança da situação de parceira no certame eleitoral para a de
guerra voltada à eliminação do Partido dos Trabalhadores. Para isso, passou a
valer qualquer tipo de meio, inclusive abandonar as regras estabelecidas
consensualmente pela Constituição Federal de 1988.
Enquanto
o governo da presidente Dilma insiste no programa de relançamento da economia,
cujo caminho é o de seguir na homogeneização do padrão de consumo, setores
impulsionadores do descarte do PT defendem sorrateiramente o inverso. Isto é, o
rebaixamento das condições socioeconômicas e políticas para que seja possível
novamente a volta do padrão de desigualdade na distribuição de renda. Por isso,
a ênfase no retorno do programa neoliberal, com a privatização da Petrobras, a
adoção da terceirização no mercado de trabalho e a redução dos direitos sociais
e trabalhistas inscritos na Constituição Federal de 1988.
Novamente,
dois caminhos distintos se abrem para o Brasil. As fichas já estão na mesa,
chegando a hora do conjunto da população se posicionar por qual país deseja
viver e deixar para as próximas gerações.
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