Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Qualquer que seja o desfecho do processo de impeachment contra a presidenta Dilma,
que ainda tem chão pela frente (a despeito do barulhento noticiário), a
História consignará, adiante, o quanto pernicioso terá sido para ao processo
democrático brasileiro o butim praticado pelo complexo oposicionista
partidário-midiático.
Por duas razões fundamentais.
A primeira, o desrespeito à Constituição, que inclui o dispositivo
do impeachment, porém o atrela à comprovação de crime de responsabilidade. Ou
seja, sem crime - como se tem dito e repetido à exaustão - o impeachment tem
outro nome: golpe.
A segunda, a tergiversação de que quase setenta por cento dos
brasileiros querem o impeachment. Isto baseado em pesquisas, como a do
Datafolha, sabe-se aonde terá colhido a amostragem.
Em contraponto, Marcos Coimbra, em artigo recente na revista Carta
Capital, afirma que cerca de vinte por cento da população brasileira - segundo
pesquisas do Vox Populi e outros - efetivamente acompanha os fatos políticos.
Vale dizer, está ligada na peleja golpe X democracia. Mais: nessa camada
"politizada", as pesquisas revelam um empate de 50 a 50%.
Ora, nesse cenário, a oposição rejeita o rótulo de golpista, mas dele
não poderá se livrar. Nem agora, nem no futuro.
Diferentemente seria se vivêssemos no regime parlamentarista, quando o
governo, em situação de grande de impopularidade e de crise econômica, pode
sofrer o "voto de desconfiança" do Parlamento, dando azo a que se
desfaça o governo e se convoquem novas eleições.
Completa o cenário, um olhar sobre as biografias dos atores em presença.
Alguns, de DNA golpista – vale dizer, herdeiros da tradição udenista -,
apenas dão sequência a uma trajetória sob todos os títulos desprezível.
Outros, entretanto, que vêm desde a resistência à ditadura militar ou,
de extração mais recente, mas palmilhando a trilha do compromisso democrático
aberta por seus antecedentes, correm o risco de, em areia movediça, se deixarem
ir "na onda" e serem carimbados negativamente no espectro
político nacional e local.
Contudo, no ambiente de plena instabilidade, idas e vindas e de luta
acirrada no terreno das ideias, ainda é cedo para cotejar perdas e ganhos.
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Nessa linha de análise, temos o segmento de formadores de opinião, ditos setores médios, que também ao se dividir conta com um lado que sempre foi politizado e portanto defende a democracia e é contra o golpe e do outro lado, com uma classe média aspirante à política, que é conduzida facilmente pela mídia e costuma seguir a opinião da elite dominante, talvez movida pelo desejo de querer ser igual aos "ricos" e por isso pensar como eles representa a satisfação de seus sonhos de consumo. Creio que nesse último segmento, deixamos de preencher uma lacuna politicamente perigosa nas políticas públicas, nas escolas e universidades e na formação da cidadania.
ResponderExcluirElcio Guimarães
Boa noite, Luciano.
ResponderExcluirSeus comentários lúcidos, embasados, coerentes acalmam o angustiado receio da ruptura democrática.
Obrigada por sua firmeza.