Mark Weibrot
A presidente Dilma Rousseff está ameaçada de
impeachment, mas não há evidências que a vinculem a qualquer esquema de
corrupção. Em vez disso, ela é acusada de manipular as contas públicas, algo
que presidentes anteriores já haviam feito.
Para traçar uma analogia com os Estados Unidos,
quando os republicanos se negaram a elevar o teto da dívida, em 2013, a
administração Obama recorreu a vários truques de contabilidade para adiar o
prazo final no qual se alcançaria o limite. Ninguém se incomodou com isso.
A campanha do impeachment, que o governo descreveu
corretamente como golpe, é um esforço da elite brasileira tradicional para
obter por outros meios aquilo que não conseguiu conquistar nas urnas nos
últimos anos.
O ex-presidente Lula é acusado de receber dinheiro
de empresas investigadas por corrupção para fazer discursos e reformar um
imóvel que ele afirma não ser dele. Mesmo que as acusações sejam verdadeiras,
não há prova de vínculo com corrupção.
O juiz Sergio Moro, entretanto, lidera uma bem
executada campanha de difamação de Lula. O magistrado teve que pedir desculpas
ao Supremo Tribunal Federal por ter divulgado grampos telefônicos de conversas
entre Lula e Dilma, Lula e seu advogado e até mesmo entre a mulher de Lula e os
filhos deles.
É claro que o Partido dos Trabalhadores não estaria
vulnerável a essa tentativa de golpe se a economia não estivesse em recessão
profunda. Mas também a esse respeito a mídia está claramente equivocada,
defendendo mais cortes nos gastos públicos e mais juros altos.
O Brasil precisa, pelo contrário, de um estímulo
sério para fazer sua economia pegar no tranco. O principal obstáculo à
recuperação é o poder dos grandes bancos.
O Brasil está pagando juros de quase 7% de seu PIB
sobre a dívida pública, mais que a Grécia no auge de sua crise. Mas o Brasil
não tem crise de dívida nem apresenta qualquer risco significativo de
moratória. Seus juros usurários são o resultado do poder político de seus
próprios bancos, que hoje desfrutam um "spread" recorde de 34% entre
suas taxas de empréstimos contraídos e concedidos.
A simples redução dos juros sobre a dívida pública
para o nível de alguns anos atrás criaria condições para um estímulo
importante.
O governo dos EUA vem guardando silêncio sobre esta
tentativa de golpe, mas há poucas dúvidas quanto à sua posição. Ele sempre
apoiou golpes contra governos de esquerda no hemisfério, incluindo, apenas no
século 21, o Paraguai em 2012, Haiti em 2004, Honduras em 2009 e Venezuela em
2002.
O presidente Obama foi à Argentina para derramar-se
em elogios ao novo governo de direita, pró-EUA, e a administração reverteu sua
política anterior de bloqueio de empréstimos multilaterais ao país. E hoje, no
Brasil, a oposição é dominada por políticos favoráveis a Washington.
Seria mais uma coisa lamentável se o Brasil
perdesse boa parte de sua soberania nacional, além de sua democracia, com este
golpe sórdido.
MARK WEISBROT é codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington, e
presidente da Just Foreign Policy, organização norte-americana especializada em
política externa
Tradução de CLARA
ALLAIN
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