Defender o resultado das urnas

Política em embulição

José Luis Simões*

Após um longo período de Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), com muitas histórias de brasileiros que foram torturados, exilados ou mortos pelo regime ditatorial, conquistamos a possibilidade de viver sob a égide da Democracia.  Sabemos que nosso sistema democrático está repleto de falhas, de desafios; ele é imperfeito. Nossa democracia é jovem. Todavia, precisamos enfatizar a defesa dos princípios próprios da sociedade democrática: liberdade de expressão, liberdade de opção política, respeito às diferenças de crenças religiosas, gênero, etnias etc. A democracia é uma conquista política e social importante. Não pode ser ameaçada pelos radicalismos e pelo ódio, tortura, repressão e intolerância.

É fato que o Brasil está dividido. Na verdade, o resultado das eleições em outubro de 2014 mostrou isso, o início de um temeroso processo de cisão onde, de um lado, estão brasileiros que querem a manutenção de um governo de centro-esquerda (que contabilizou maioria para reconduzir Dilma à Presidência da República) e, de outro, brasileiros insatisfeitos com o governo e líderes oposicionistas que, há mais de uma década afastados do centro do poder, empunham a bandeira do impeachment.  

Mas, há um grande consenso: o povo brasileiro não aguenta mais a corrupção endêmica, incrustada nas instituições e na cultura política. O povo quer mudanças, um novo momento na política e na economia do país. Será mesmo que todos os políticos são corruptos e a política é suja? Atesto, com tranquilidade: a política é uma das atividades mais nobres das sociedades humanas. A politicagem e a politicalha são perversões da política e devem ser combatidas, como bem defendia Rui Barbosa, ainda no início do século XX.

Corrupção na política e nas instituições (públicas ou privadas) é um câncer que prejudica o desenvolvimento do Brasil. É evidente que devemos combater a corrupção em todos os níveis. Desde a “gorjeta para o cafezinho do policial”, até casos de desvio de vultosos recursos públicos, devem ser combatidos. A “Operação Lava Jato”, protagonizada pela Polícia Federal, está revirando a política e se tornando a principal pauta jornalística dos últimos tempos. Até mesmo as notícias sobre o vírus Zika e a microcefalia estão ficando em segundo plano, depois das delações do Senador Delcídio, da condução coercitiva do ex-presidente Lula e da famosa “Lista da Odebrecht”. Claro que há manipulação midiática nesse jogo, afinal, por quê uma famosa emissora de televisão não revelou os políticos que constam na Lista da Odebrecht, mas, por outro lado, induz o espectador a aumentar sua desconfiança em relação a figuras políticas específicas?

A população está com fome de justiça e bestializada com os recentes acontecimentos no cenário político nacional. Podemos dizer que o Brasil está em ebulição. Precisamos de temperança e coragem para propor mudanças, defender o resultado das urnas e preparar as gerações futuras com a arma mais eficaz que a sociedade possui: Educação. 

José Luis Simões é professor associado do Centro de Educação/UFPE.

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