06 abril 2016

Ruas desequilibram

Quatro trincheiras de luta
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Como anunciou o senador tucano Aloysio Nunes, o objetivo é "fazer sangrar" Dilma, para impedir que a presidenta governe. Desde os primeiros dias do seu segundo governo, assim têm agido, o PSDB e seus aliados do consórcio oposicionista partidário-midiático, ininterruptamente.
O ajuste fiscal, por exemplo, cujos fundamentos ortodoxos (combinação nefasta do contingenciamento orçamentário linear e juros altíssimos), se identificam mais com o ideário neoliberal do PSDB do que com o próprio PT e a coalizão governista, assim mesmo foi e continua sendo torpedeado na Câmara e no Senado em nome da política do "quanto pior, melhor" (variante tática do "sangramento").
Concomitantemente, ao estilo da velha UDN, que perdia eleições presidenciais e incontinenti batia às portas dos quartéis, feito vivandeiras, pedindo um golpe militar, incontáveis vezes o senador Aécio Neves tem ido aos tribunais na expectativa de um golpe judicial - da tentativa de impugnação de votos apurados no pleito à rejeição das contas de campanha -, sem êxito.
Hoje, a tática do sangramento alimenta a batalha em quatro trincheiras: o pedido de impeachment, a pressão pela renúncia da presidenta e antecipação das eleições, a rejeição das contas de campanha e a mobilização de rua insuflada escancaradamente pelo aparato midiático. 
O impeachment, porque sem fato determinado nem crime da responsabilidade, como reza a Constituição, recebe crescente condenação de expressivos segmentos do mundo jurídico e da sociedade civil. Como tese, se esgarça.
A proposta de renúncia, destinada mais a desgastar a presidenta do que a solucionar o impasse político, reverberada por órgãos de imprensa como a Folha de S. Paulo e o Diário de Pernambuco, carece de lastro. 
A rejeição das contas de campanha pelo TSE, aposta preferencial da candidata derrotada Marina Silva e empunhada com vigor militante pelo ministro do STF Gilmar Mendes, também não sustenta objetivamente.
Mas a questão “é política”, repetem em cantilena líderes oposicionistas, como se vivêssemos sob sistema parlamentarista.
É política sim, pois decidida – no caso do impeachment – por uma instituição política, o Congresso Nacional, constituído por deputados e senadores. Porém há que se apoiar na comprovação de crime de responsabilidade da presidenta.
Dilma sequer é indiciada, nem muito menos ré.
Daí rasgar a Constituição, nas três alternativas de golpe cogitadas pela oposição, é o que resta.
Acontece que na quarta trincheira, as ruas, há uma distinção clara entre os que desejam o golpe e os que defendem a ordem democrática.
A reação da sociedade às tentativas de depor a presidenta se faz extraordinariamente ampla, quantitativa e qualitativamente. Vale dizer, nos salões, nas redes e nas ruas. Congrega forças para além do apoio ao governo e emergiu, na última quinzena, como variável fundamental para desenlace da crise.

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