03 maio 2016

Ação versus resistência

Dois embustes
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

O afastamento da presidenta e o posterior impeachment, provável decisão do Senado, passará à História como um momento de inflexão na trajetória civilizacional do Brasil: após quase três décadas de redemocratização, a Constituição é jogada à lama para dar lugar a um governo ilegítimo.
Embora o texto constitucional seja claro e inequívoco ao assinalar que o impeachment só se aplica em caso de crime de responsabilidade praticado pelo ocupante da presidência da República, o artifício das chamadas “pedaladas fiscais” é vendido como razão essencial para o impedimento de Dilma.
Um embuste!
Na seqüência, em meio a um deplorável teatro em que contracenam lepidamente fisiológicos de todos os matizes, em busca de cargos no pretenso novo governo, e a elite neoliberal alojada no PMDB, PSDB e DEM, anuncia-se que o “novo está chegando”.
Outro embuste descomunal!
Como batizar de “novo” o retorno a políticas de cunho neoliberal que quebraram o País e foram rejeitadas por quatro vezes seguidas pela maioria dos brasileiros em eleições presidenciais!?
Na verdade, a agenda Temer, antes rascunhada no documento “Uma ponte para o futuro” e agora aprimorada, para fins práticos, no texto “A travessia social” representa, nas esferas política, social e econômica uma regressão sistêmica.
A política externa altiva e soberana, diversidade nas relações diplomáticas e comerciais, com ênfase nos países integrantes do Brics, se vê ameaçada pela volta à subserviência aos EUA.
As conquistas sociais – incluindo programas sociais de largo alcance, como o Bolsa Família, o Luz para Todos e semelhantes e a valorização do salário -, serão subtraídos substancialmente em nome de uma pretensa eficiência do Estado – no caso, “mínimo”, como ensinava Margareth Thatcher e pretendeu FHC.
Ao modo do argentino Macri, a intenção é despejar sobre a cabeça do povo – em ritmo emergencial - um imenso pacote regressivo, via maioria parlamentar.
De outra parte, também ao modo da nossa vizinha Argentina, aqui será inevitável o incremento de amplo e poderoso movimento social, como contraparte ao regresso neoliberal, configurando um novo ciclo político cujo vértice estará no conflito.
O fato é que há uma imensa parcela da população que, embora anotada nas pesquisas como insatisfeita com o governo Dilma e desejosa de mudança, está ainda equidistante do golpe.
Não o compreende.
Se o compreendesse, como diz Leonardo Boff, nas ruas do Brasil não caberiam tanta gente a protestar contra direitos ameaçados!
Assim, nos próximos dias poderemos ter a confirmação do golpe.
E igualmente a materialização da consigna #VaiTerLutaSempre.

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