19 maio 2016

O filme e o protesto

"Aquarius vai fazer você querer morar no Brasil": As reações ao filme e ao protesto em Cannes
BBC Brasil
Um filme brasileiro que concorre à Palma de Ouro no Festival de Cannes ganhou holofotes nesta semana por dois motivos. Foi parar na primeira página do jornal britânico The Guardian por conta do protesto, em pleno tapete vermelho, da equipe na cerimônia de estreia contra o processo de impeachment que afastou Dilma Rousseff da Presidência.
"O Brasil vive um golpe de Estado", dizia um dos pequenos cartazes empunhados. "54.501.118 votos estão sendo queimados", dizia outro.
Escrito e dirigido pelo pernambucano Kléber Mendonça Filho, Aquarius conseguiu também um segundo feito: foi aclamado por parte da crítica. Entre as referências positivas à qualidade artítistica e técnica do filme, aplaudido por vários minutos após a exibição, um destaque vem do também britânico Daily Telegraph, que estampou no título: "Aquarius vai
"As complexidades da sociedade brasileira, com seus estratos sociais e raciais, e também a importância dos laços familiares, se transformam em uma teia de aranha para Clara e o enredo. No final, você fica feliz de estar envolvido naquilo, e sem vontade de se libertar", escreve o crítico do jornal Robbie Collinm, que deu cinco estrelas, a nota máxima, para o filme, descrito como "magnífico".
Aquarius, descreve o Guardian, conta a história de uma crítica de música, interpretada por Sônia Braga, pressionada a deixar seu apartamento, em Recife, por empreendores que querem derrubar o prédio para construção de um novo empreendimento. O jornal sugere uma metáfora como a situação atual do Brasil, em que Dilma foi afastada do governo acusada de "pedaladas" que mascararam o déficit das contas públicas e agora aguarda decisão final do Senado.
O francês Le Monde disse que a exibição do filme "confirma a tendência de que ele impõe como o mais belo de todos que vimos até agora (nesta edição do festival)".
Para o jornal, o protesto do elenco foi "um gesto simples e forte, que ecoa a cólera fria e a determinação serena com que Clara, a personagem principal do filme, se opõe ao agente imobiliário que queria despejá-la do apartamento onde ela viveu toda a sua vida".
Ao New York Times, Kleber Mendonça Filho disse: "O que está ocorrendo no Brasil agora é um golpe de Estado, mas um golpe moderno e cínico", em reportagem publicada no dia 10 de maio.
O protesto de sua equipe acabou gerando polêmica no perfil do Festival de Cannes no Facebook. Em meio a várias mensagens de apoio, havia muitas críticas de brasileiros.
"É por isso que reclamam (da extinção) do Ministério da Cultura e não o da Fazenda. Fazem protesto da França, mas jamais vão na periferia ver os efeitos reais da crise. Não se importam de divulgar uma mentira, desde que em solo glamourizador", criticou um usuário.
"Estão assim porque a mamata do Ministério da cultura acabou", disse outro comentário crítico.
Aquarius é o único filme latino-americano disputando a Palma de Ouro, o prêmio máximo de Cannes. É a chance de o Brasil levar esta premiação pela segunda vez. A primeira e única veio com O Pagador de Promessas, de 1962, dirigido por Anselmo Duarte.

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