O
perfil predominante entre os membros do Senado é o de um homem, branco, com
curso superior (Direito é o mais comum), investigado pela Justiça e com boas
chances de ser membro da bancada ruralista.
Por Ingrid Fagundez e Renata Mendonça, no
portal Vermelho
É o
que revela a análise feita pela BBC Brasil de dados – como sexo,
formação e número de mandatos – dos 81 senadores. O levantamento descobriu
ainda que a maioria dos parlamentares têm longa carreira política, com
passagens por Câmara e cargos no Executivo, e que vários pertencem a
"clãs" familiares.
Além
disso, 58% dos que votarão o impeachment da presidente Dilma Rousseff respondem
a acusações como improbidade administrativa e corrupção passiva em tribunais,
segundo a ONG Transparência Brasil.
Abaixo,
conheça algumas das características de destaque entre os senadores.
80% do Senado é composto de homens brancos
A
votação do impeachment na Câmara dos Deputados já tinha mostrado que a grande
maioria da Casa é formada por homens brancos.
No
Senado, não é diferente. Dos 81 senadores, 64 são homens brancos, seis são
homens negros, e 11 são mulheres (sendo uma delas negra).
Os
números contrastam com a realidade da sociedade brasileira: de acordo com os
dados mais recentes do IBGE, 54% da população é negra 51% são mulheres.
A
idade média dos senadores é 60,5 anos. Três em cada dez são formados em
Direito.
Segundo o site do Senado, 68 membros da Casa têm curso superior completo, um dado que também contrasta com a configuração do país, onde, segundo a última Pnad (Pesquisa Nacional de Domicílios) do IBGE, apenas 16% possuem ensino superior completo.
Segundo o site do Senado, 68 membros da Casa têm curso superior completo, um dado que também contrasta com a configuração do país, onde, segundo a última Pnad (Pesquisa Nacional de Domicílios) do IBGE, apenas 16% possuem ensino superior completo.
"Isso
é um retrato do poder. A gente nunca teve um Legislativo que espelhasse a
diversidade social no país" disse à BBC Brasil Maria do Socorro Braga,
professora de Sistemas Democráticos e Teoria Política Democrática da Ufscar e
coordenadora do Núcleo de Estudo dos Partidos Políticos Latino-Americanos na
mesma universidade.
"Faz
parte da nossa cultura política, que é elitista."
58% dos senadores são citados na Justiça ou em
Tribunais de Contas
Entre
os 81 senadores que votarão o impeachment, 47 (58%) têm ocorrências na Justiça
ou em Tribunais de Contas por suspeitas ou acusações que vão de improbidade
administrativa (em sua maioria) a corrupção passiva, passando por lavagem de
dinheiro e formação de quadrilha, segundo levantamento do projeto Excelências,
da ONG Transparência Brasil.
58% dos senadores são
investigados em tribunais de Justiça ou de Conta, segundo a Transparência
Brasil
Os
partidos com o maior número de senadores citados são: PMDB (10), seguido por PT
(9), PSDB (6), PR (6) e PP (5).
"É
uma contradição muito grande e uma alta deslegitimação desse processo. Vivemos
um momento em que a classe política está sendo muito questionada porque cada
vez se tem mais informações sobre isso (políticos acusados de crimes ou
improbidades). Há um descrédito da população em relação a seus
representantes", disse Braga.
"Tem
políticos de todos os partidos envolvidos. Essa contradição nos mostra que
temos uma democracia com baixa qualidade. A médio e a curto prazo, uma
consequência disso é o apartidarismo."
Senadores vêm de 'dinastias' políticas e têm longa
carreira política
Apesar
de 65% dos senadores estarem em seu primeiro mandato, a maioria deles tem longa
carreira política – ou já foi deputado por mais de uma vez ou exerceu cargos
importantes no Executivo, como o de governador.
Segundo
o cientista político Manoel dos Santos, vice-coordenador do Centro de Estudos
Legislativos da UFMG (federal de Minas Gerais), a carreira – e a projeção
conseguida por ela – é necessária para conseguir votos, pois o senador é eleito
pelo número de votos no seu Estado. Na Câmara, para ser eleito, o candidato
depende não apenas dos votos que recebe, mas também dos recebidos por seu
partido ou coligação.
"(No
Senado), só vai bem quem tem de fato muito voto. São pessoas de patrimônio
político extenso, por isso está cheio de ex-ministros."
A
experiência pesa na hora da indicação do partido para participar das eleições.
"A
grande disputa é conseguir montar sua chapa e sair como candidato da coligação.
São sempre grandes nomes", diz a pesquisadora da Transparência Brasil,
Juliana Sakai.
Muitos
deles carregam também sobrenomes de peso. Dados da Transparência Brasil mostram
que 60% dos senadores têm parentes na política, mais do que os deputados (49%).
Entre
os "clãs" mais numerosos na política estão os de Cássio Cunha Lima (5
parentes), do presidente do Senado, Renan Calheiros (4 parentes), e o de Jader
Barbalho (3 parentes).
Para a
cientista política da Ufscar Maria do Socorro Braga, "são verdadeiras
oligarquias". "(Antes) era mais forte do que hoje, mas ainda existe.
Praticamente em todo Nordeste, quem está assumindo são filhos e netos. Essa é
uma característica que acaba afetando a ampliação e a maior integração de
outros setores."
Segundo
Braga, as famílias acumulam poderes econômicos e de comunicação, detendo meios
de informação.
"Por
que (Fernando) Collor foi eleito depois de passar anos inelegível? Se você vai
para Alagoas, as rádios, os jornais da região são todos dele e acabam
ajudando."
Bancada ruralista é predominante
Quase
30% do Senado é ruralista. A informação é do Projeto Excelências, da
Transparência Brasil. A bancada é uma das maiores na Casa, ao lado do grupo
formado por concessionários de rádio e TV (23,5%). A bancada dos sindicalistas
é a terceira, mas fica afastada das duas primeiras, com 11%.
Para
Braga, os números mostram um desequilíbrio dos interesses representados no
Senado, que seria "muito fechado" e "exclusivo".
"É
bastante elitista. Causa espécie você ver que é uma elite que não está sensível
às características socioeconômicas do Brasil, marcado por extrema desigualdade
social."
Já o cientista político Manoel dos Santos vê os ruralistas como um "segmento legítimo da sociedade".
Já o cientista político Manoel dos Santos vê os ruralistas como um "segmento legítimo da sociedade".
Santos
afirma que muitos Estados brasileiros têm forte economia agrícola e estariam
representados por esses parlamentares.
Da
mesma forma, um Brasil majoritariamente conservador também teria um Legislativo
pouco adepto a mudanças.
"Parlamentos
são sempre um pouco mais conservadores do que os membros do Executivo, pela
distribuição de preferência dos eleitores (por Estados). Nossa sociedade é
conservadora. Há também um neoconservadorismo se projetando, ligado a questões
religiosas. Não acho um problema. Tem que ter representatividade de fatores
liberais e conservadores", diz.
Mais de 13% dos senadores chegaram a cargo sem
receber voto
As
eleições para o Senado Federal são majoritárias, ou seja, só são eleitos os
senadores que recebem a maioria dos votos diretos, enquanto na Câmara as
eleições são proporcionais e candidatos menos votados têm chances de ocuparem
as cadeiras por conta do quociente eleitoral.
Ainda
assim, é possível chegar ao Senado sem receber voto algum, por causa do sistema
de suplência.
Quando
se elege um senador, o suplente é eleito junto. Muitos suplentes que compõem a
chapa dos senadores são financiadores das campanhas ou familiares (esposa,
filho, neto, etc). Existe até uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que
visa impedir que cônjuges ou pessoas com vínculo sanguíneo possam compor as
chapas dos senadores, mas ela está parada na Câmara desde 2013.
"Há
pessoas (no Senado) que não têm nenhuma representatividade. Cai algo que é
fundamental numa democracia. (O Senado) É uma Casa muito conservadora e
representa apenas alguns setores, que são os que financiam as campanhas",
afirmou a professora da Ufscar.
Em
oito anos de mandato, é muito comum o senador eleito deixar o posto para ocupar
outro cargo – às vezes no governo federal, como ministro, às vezes em um
governo estadual ou municipal. Com isso, o suplente (que, em geral, não é
conhecido pelo eleitorado) acaba assumindo a cadeira em seu lugar.
Por
exemplo, dos 54 senadores que foram eleitos em 2010 para um mandato que teria
oito anos, 20 acabaram deixando suas funções temporariamente em 2014 para
concorrer a eleições em outros cargos – para governador, principalmente.
Atualmente,
existem 11 suplentes – o equivalente a 13,5% do Senado – ocupando as vagas de
senadores eleitos pelo voto.
Fonte: BBC Brasil
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