Jandira Feghali
"Querida Dilma,
Ao lhe escrever esta
carta me encontro com momentos da História de nosso país. Da luta pela
emancipação de milhões de brasileiros como cidadãos plenos de direitos, aos
embates políticos que, sustentados na diversidade e nas demandas da nação por
desenvolvimento e reafirmação da sua identidade, soberania e ampliação da
democracia. Nessas trincheiras estivemos juntas.
No período mais recente, tive a oportunidade
de defender o projeto eleito nas urnas com firmeza e convicção, não apenas
nas eleições, mas nas horas mais duras, quando seu governo era atacado de
forma violenta, preconceituosa e mentirosa no parlamento brasileiro, nos
grandes meios de
comunicação, e manifestações que na rua gritavam contra a
democracia e contra a mulher presidente.
Estive tambem em emocionantes manifestações, onde a
pluralidade, a solidariedade e o apreço pela liberdade eram as marcas das
palavras e dos rostos. Estas cresceram diariamente no país denunciando o
golpe e exigindo sensibilidade política das instituições para barrá-lo.
Vi na senhora uma mulher altiva, forte e
resiliente, sempre disposta a prosseguir lutando pela justiça, pela
verdade e pelo Brasil que surgiu após 13 anos deste projeto. Víamos a
confiança inabalável de quem, diante de uma guerra implacável e covarde,
tem a consciência limpa.
O suor que escorreu de suas faces ao se
dirigir aos homens e mulheres que vieram lhe emprestar suas forças, sob o
sol escaldante do dia 12 de maio, é inspiração para a nossa jovem
democracia. Ela, tão preciosa e que deve sua existência aos que nunca se
calam frente às injustiças e diante da violência do golpe, como a senhora.
Não é fácil assistir um governo ilegítimo
ascender. Principalmente quando isso se dá a partir de um vice-presidente que
desonrou o cargo que ocupa ao se unir a um grupo de políticos que, por
meio de um golpe e rasgando a Constituição, levaram ao poder um
conspirador. Uma ferida na consciencia democrática e na história. Mais
uma, após tanta luta para que voltássemos a respirar os ares da liberdade e do
Estado democrático de Direito.
Não nos surpreende a atitude desses senhores
sem autoridade moral e ética para conduzir a Nação, mas nos enche de
indignação a interrupção de um projeto que demos início com a chegada do
primeiro operário e de uma mulher à Presidência da República.
Dessa indignação virá nossa força. Não
legitimaremos o Governo interino de Michel Temer. Não haverá caminho fácil
para quem usurpa um governo eleito democraticamente por 54 milhões de votos.
Não daremos trégua a quem planeja cortar direitos, entregar a Petrobras na
calada da noite e extinguir avanços históricos na Saúde e Educação. São
todos golpistas e assim devem ser tratados pelo povo e movimentos sociais.
Sabemos que serão meses de angústia, mas de
muita luta. Tenho esperança que conseguiremos reverter essa
realidade distorcida em julgamento no Senado . É lá que o clamor das ruas
deve ecoar, para que a injustiça seja reparada.
E voltaremos. Voltaremos porque, mesmo
injustiçados, não nos permitimos desistir de fazer prevalecer a verdade.
Voltaremos para provar que a democracia está acima de conluios e
desmandos.
A você, minha querida presidenta, desejo
toda a força do mundo e nossa convicção de que milhões de brasileiros
e brasileiras permanecerão unidos, de punhos erguidos, exigindo em
todos os cantos, o seu retorno.
Um abraço afetuoso,
Jandira
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