30 junho 2016

A política como ela é

O artigo que segue contribui para reforçar a convicção de que o sectarismo e a estreiteza não batem com a realidade. Uma coisa é defender com determinação as próprias opiniões, outra coisa é rotular em definitivo alguém que se lhe contrapõe a essas ideias, fechando qualquer possibilidade de uma aliança futura – ainda que pontual, circunstancial, de curta duração. A política real, do ponto de vista consequente, implica combinar firmeza de propósitos com flexibilidade e amplitude, mais ainda em face de uma correlação de forças adversa. (LS)

A aliada improvável
Bernardo Mello Franco, na Folha de S. Paulo
Na noite de 11 de abril, a comissão especial da Câmara aprovou o parecer favorável ao impeachment. Enquanto os deputados batiam boca em Brasília, milhares de petistas e simpatizantes faziam um ato em defesa de Dilma Rousseff no Rio. A multidão gritou palavras de ordem a favor da presidente e se uniu num coro: "Fora Kátia Abreu."
O alvo era a ministra da Agricultura, prócer da bancada ruralista filiada ao PMDB de Michel Temer. Dois meses e meio depois, os petistas não se aventuram mais a atacá-la. Kátia desafiou o próprio partido e continuou no cargo enquanto a gestão Dilma desmoronava. Nesta terça (28), ela virou membro da comissão do impeachment do Senado para defender a presidente afastada.
Na estreia, a peemedebista disse que Dilma é vítima de "intolerância" e "incompreensão". Acrescentou que os decretos de crédito suplementar citados no pedido de impeachment também foram editados durante os governos Lula e FHC.
"Estou estudando muito, chamei até um professor de economia para tirar dúvidas", conta Kátia. "A opinião pública está dividida. Temos que lutar para virar o jogo", diz.
A senadora reconhece que não imaginava travar uma guerra política na mesma trincheira dos petistas. Dona de fazendas no Tocantins, ela chegou ao Congresso pelo velho PFL, fez oposição ferrenha a Lula e pediu votos para os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin. Quando Dilma decidiu nomeá-la, o MST ocupou terras para protestar.
Agora, segundo aliados, a presidente passou a chamá-la de "queridinha do PT". "É surpreendente, né? Mas a vida é assim", diz Kátia. "O preconceito emburrece. Eu também tinha preconceito contra o PT."
A senadora promete continuar a defender Dilma, embora seu partido tenha chegado ao poder. "Não tenho nada contra o Michel, mas não concordo com isso que está acontecendo", afirma. "Acredito na defesa dela e vou falar até a garganta secar."
uLeia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Um comentário:

  1. Fazer política com "P" maiúsculo não é pra qualquer um. Parabéns!

    ResponderExcluir