O artigo que segue contribui para reforçar a convicção de
que o sectarismo e a estreiteza não batem com a realidade. Uma coisa é defender com
determinação as próprias opiniões, outra coisa é rotular em definitivo alguém
que se lhe contrapõe a essas ideias, fechando qualquer possibilidade de uma
aliança futura – ainda que pontual, circunstancial, de curta duração. A política
real, do ponto de vista consequente, implica combinar firmeza de propósitos com flexibilidade
e amplitude, mais ainda em face de uma correlação de forças adversa. (LS)
A aliada improvável
Bernardo Mello Franco, na Folha de S. Paulo
Na noite de 11 de abril, a comissão
especial da Câmara aprovou o parecer favorável ao impeachment. Enquanto os
deputados batiam boca em Brasília, milhares de petistas e simpatizantes faziam
um ato em defesa de Dilma Rousseff no Rio. A multidão gritou palavras de ordem
a favor da presidente e se uniu num coro: "Fora Kátia Abreu."
O alvo era a ministra da Agricultura,
prócer da bancada ruralista filiada ao PMDB de Michel Temer. Dois meses e meio
depois, os petistas não se aventuram mais a atacá-la. Kátia desafiou o próprio
partido e continuou no cargo enquanto a gestão Dilma desmoronava. Nesta terça
(28), ela virou membro da comissão do impeachment do Senado para defender a
presidente afastada.
Na estreia, a peemedebista disse que
Dilma é vítima de "intolerância" e "incompreensão".
Acrescentou que os decretos de crédito suplementar citados no pedido de
impeachment também foram editados durante os governos Lula e FHC.
"Estou estudando muito, chamei até
um professor de economia para tirar dúvidas", conta Kátia. "A opinião
pública está dividida. Temos que lutar para virar o jogo", diz.
A senadora reconhece que não imaginava
travar uma guerra política na mesma trincheira dos petistas. Dona de fazendas
no Tocantins, ela chegou ao Congresso pelo velho PFL, fez oposição ferrenha a
Lula e pediu votos para os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin. Quando Dilma
decidiu nomeá-la, o MST ocupou terras para protestar.
Agora, segundo aliados, a presidente
passou a chamá-la de "queridinha do PT". "É surpreendente, né?
Mas a vida é assim", diz Kátia. "O preconceito emburrece. Eu também
tinha preconceito contra o PT."
A senadora promete continuar a defender
Dilma, embora seu partido tenha chegado ao poder. "Não tenho nada contra o
Michel, mas não concordo com isso que está acontecendo", afirma.
"Acredito na defesa dela e vou falar até a garganta secar."
Fazer política com "P" maiúsculo não é pra qualquer um. Parabéns!
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