Reconstruir castelos
Taciana Valença [foto]
Fazer o que se não tenho cor? Se sou infinitamente
transparente? Mas há dias assim, em que todas as cores parecem perpassarem pela
nossa alma. Fatos talvez dos algozes pseudo donos do mundo. Por mais que tente
não consigo ficar imune. Se for para criar imunidade contra a vida prefiro dar
sinal de partida, seguir um caminho escuso ou inabitável. Por certo muitas
coisas andam fora dos eixos, desconheço pessoas
pelas quais um dia tive apreço. Talvez seja o preço que se paga por fazer
existir em nós o mínimo de sentimento de justiça, de amor, de caridade. E a
luta vira até piada para quem segue o lema de levar vantagem, do salve-se quem
puder, de "o mundo é assim mesmo, você não pode mudar". E é como
construir castelos de areia na praia e esperar o mar encher ou o vento
derrubar. Já tive dias assim, de querer estar do lado de bandido pra ver se
sofro menos nesse mundo iludido. Mas isso só serve para rima mesmo, pensamento
irônico em momentos assim, de inconformismo. O certo é que vou levantar de
novo, seguir com o que acredito nesses dias desacreditados de tudo e encarar o
que deve ser encarado e peitar a vida novamente mesmo sabendo que anda tudo
errado. Reconstruir meus castelos, juntar as mãos que carreguem um mesmo barco
e buscar no mínimo que for um motivo a mais para sorrir, pois as lágrimas só
serviriam para ajudar a derrubar o meu castelo, que seja, de areia.
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