Walter Sorrentino, n o Blog do
Renato
Dilma
Rousseff tem a oportunidade de optar pelo modo como será retratada na história.
A líder democrata, pessoa honrada e honesta,
patriota que deu o melhor de si para fazer o Brasil e seu povo avançarem, e foi
vitimada por uma poderosa ofensiva político-midiática-judicial das forças
conservadoras.
Uma grande brasileira injustiçada por um golpe.
Merecerá sem dúvida esse registro nos livros de história do Brasil e quiçá no
mundo.
Se o impeachment se consumar.
Mas há outro registro possível, mais à altura da
encruzilhada brasileira e de sua própria biografia.
Dilma tem a oportunidade de entrar para a história
em chave maior, como a estadista que pagou alto preço, defende a democracia,
mas apresenta uma saída e um desfecho para a crise, em defesa do Brasil.
Enquanto corre o julgamento no Senado, o que a
sociedade está julgando é o governo biônico de Temer. Um governo que só tem
maioria nos estamentos políticos do país, de costas para a sociedade – que não
se reconhece neles -, que cala a voz de quantos foram às ruas bradar pelo
impeachment.
Se o governo afundar na instabilidade, antes ou
depois da votação do impeachment aprovado, que fazer? Vamos a eleições
indiretas, por esse mesmo Congresso?
E se o impeachment não se consuma? Como repactuar
o país? Quando anunciar os caminhos da repactuação? Como conferir credibilidade
e confiança nesses caminhos?
Dilma tem a outra opção: apresentar à nação os
meios para se repactuar, a partir da única fonte de soberania: o voto popular,
com a antecipação de eleição presidencial.
Basta-lhe dizer que ouve o clamor da sociedade e,
sendo a vontade da maioria, não se oporá à proposta.
Fazê-lo antes da votação do impeachment, fortalece
a saída democrática e conquista votos para derrotá-lo no Senado. Já estará
sinalizada a repactuação que ela propõe à nação. É preciso torná-la um fato
político.
Há um campo para disputar e unir em torno da
proposta, mesmo que motivada por diferentes perspectivas. PCdoB a propõe, PSOL,
REDE e a Frente Povo sem Medo a defendem, setores vários das forças
democráticas e progressistas, lideranças sindicais e estudantis, ícones da
mídia e análise política como Teresa Cruvinel, Luis Nassif e Paulo Henrique
Amorim. Não será difícil a adesão de forças mais amplas no campo popular, ao
contrário: pode-se contar com apoio das ruas bastante marcante.
As contradições do bloco ora governante motivam
outras possibilidades. É preciso explorá-las. A Folha de São Paulo optou por
seu próprio caminho, também de antecipar eleições.
Assim ocorre nas propostas de saídas para grandes
crises. Elas não se dão nas molduras já estabelecidas, exigem inventividade. As
coisas vão moleculando, num debate paciente e perseverante. Projetos
legislativos engavetados são resgatados para dar opções concretas às saídas. Há
horas em que a própria evolução dos acontecimentos se encarrega de colocar no
proscênio a solução que ainda não houvera maturado.
O importante é fazer progredir o debate nas forças
democráticas, progressistas e da esquerda, para mobilizar amplas forças, mesmo
as que não apoiavam o governo Dilma nem o PT, por um plebiscito para decidir se
se deve antecipar eleições presidenciais.
Getúlio Vargas, num momento igualmente crítico da
nação, deu sua própria vida para paralisar os intentos golpistas. Saiu da vida
para entrar na história – seu gesto até hoje é considerado uma das páginas mais
marcantes da história, pela demonstração de compromisso e integridade.
Os gestos têm grande valor simbólico e moral na
luta dos povos. Um gesto de Dilma na direção de antecipar eleições, fará com
que mereça um registro maior, à altura de seu verdadeiro valor, nos livros de
história.
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