Eduardo Guimarães, no Blog da
Cidadania
Por mais que a confirmação do impeachment de Dilma Rousseff seja
prejudicial à democracia, seu principal efeito deletério não seria contra ela,
mas contra seus algozes. É o que mostra a 5ª rodada da Pesquisa CUT / Vox
Populi, divulgada nesta semana.
Vale rever os critérios da sondagem.
- Objetivos:
Os objetivos da 5º rodada da pesquisa CUT/Vox Populi, realizada em junho
de 2016, foram avaliar sentimentos e opiniões da população brasileira a
respeito do governo de Michel Temer e seus primeiros atos como presidente
interino.
- Metodologia:
A pesquisa foi feita de acordo com a técnica de survey, que consiste na
aplicação de questionários estruturados e padronizados a uma amostra
representativa da população.
- Data de
campo: Os trabalhos de campo foram realizados entre os dias 07 e 09 de
junho de 2016.
- População
pesquisada: População brasileira com idade superior a 16 anos, residente
em todos os estados brasileiros (exceto Roraima) e no Distrito Federal, em
áreas urbanas e rurais, de todos os segmentos socioeconômicos e
demográficos.
- Amostra:
Foi adotada uma amostra estratificada por cotas, com o total de 2.000
entrevistas, para obter representatividade para o conjunto do Brasil. As
cotas utilizadas para a seleção dos entrevistados foram de gênero, idade,
escolaridade, renda familiar e situação perante o trabalho, sendo
calculadas proporcionalmente a cada estrato de acordo com os dados do IBGE
(censo de 2010 e PNAD 2013).
- Margem
de erro: A margem de erro, para o total do estudo, é de 2,2%, estimada em
um intervalo de confiança de 95%.
As conclusões da pesquisa são avassaladoras para o presidente de facto
do Brasil. E para quem não gosta do instituto Vox Populi por considerá-lo
“petista, vale informar que suas conclusões são quase idênticas às de recente pesquisa MDA feita para a Confederação Nacional dos
Transportes (CNT), entidade declaradamente antipetista.
Tanto a pesquisa CUT / Vox Populi quanto CNT / MDA mostram Temer com 11%
de aprovação, ou seja, com o mesmo percentual de Dilma. Os dois institutos
detectaram que a sociedade acha que a corrupção será igual ou maior sob Temer,
que a economia vai piorar e que o impeachment não resolverá nada. Tanto MDA
como Vox Populi mostram forte pessimismo da população.
A seguir, o resumo da pesquisa CUT / Vox Populi para comparação com a
pesquisa CNT / MDA
67% dos brasileiros avaliam de forma negativa o governo interino do
vice-presidente, Michel Temer, 32% acham que ele é pior do que esperavam e o
futuro não é nada animador: o desemprego vai aumentar (52%), os direitos
trabalhistas (55%) vão piorar e medidas como idade mínima para aposentadoria
vão prejudicar muita gente (77%). Essas são as principais conclusões da última
pesquisa CUT-Vox Populi, realizada entre os dias 7 e 9 de junho.
Para 34% dos entrevistados o desempenho de Temer é negativo – 33% acham
que é regular, 11% positivo e 21% não souberam ou não responderam. O Nordeste é
a Região do País onde o vice tem pior avaliação – 49% negativo, 41% regular e
10% positivo. Em segundo lugar vem o Sudeste com 45% negativo, 42% regular e
13% positivo. No Centro-Oeste, 39% consideram o desempenho negativo, 43%
regular e 18% positivo. No Sul, 31% negativo, 45% regular e 24% positivo.
Os trabalhadores e os mais pobres serão mais prejudicados
Com um mês de governo interino, pioraram todos os percentuais de
avaliação sobre a gestão golpista com relação a classe trabalhadora e as
pessoas que mais necessitam de políticas públicas para ter acesso à saúde,
moradia, educação e alimentação digna.
Para 52% dos entrevistados, o desemprego vai aumentar – o percentual dos
que acreditam que vai diminuir e dos que acham que não vai mudar empatou em
21%. Na pesquisa anterior, realizada nos dias 27 e 28/4, 29% acreditavam
que o desemprego iria aumentar; 26% que iria diminuir e 36% que não ia mudar.
Ainda com relação a pesquisa anterior, aumentou de 32% para 55% o
percentual dos que acreditam que o respeito aos direitos dos trabalhadores vai
piorar. Para 19% vai melhorar e 20% acreditam que não vai mudar.
Aumentaram também as expectativas negativas com relação aos programas
sociais em relação a pesquisa feita em abril. Antes, 34% achavam que com
Temer na presidência os programas iriam piorar. Agora, são 56%.
O percentual dos que acreditavam que ia melhorar variou um dígito apenas
– de 19% para 18%; e dos que acreditavam que não ia mudar que era de 36% caiu
para 19%.
Foram consideradas ruins porque prejudicam a maioria das pessoas, as
propostas de Temer de aumentar a idade mínima para aposentadoria (77%), a
diminuição de verbas do Programa Minha Casa Minha Vida (54%) e a diminuição do
número de pessoas que recebem o Bolsa Família (48%).
Acabar com o monopólio da Petrobrás no Pré-Sal e aumentar a privatização
de empresas e de concessões de rodovias e aeroportos foram consideradas ruins
porque prejudicam o Brasil para 50% dos entrevistados. Para 31% a questão da
privatização e das concessões é uma medida necessária e não vai prejudicar o
país, outros 19% não souberam ou não responderam. Quanto ao Pré-Sal, 25% acham
que não vai prejudicar o país e 25% não souberam ou não responderam.
Temer é pior do que as pessoas esperavam
Para 32% dos entrevistados na pesquisa CUT-Vox Populi, Temer é pior do
que esperavam. Empatou em 16% o percentual dos que acham que ele é tão ruim
quanto achavam que ia ser e dos que consideram que ele é melhor do que
esperavam. Só 7% acham que ele é tão bom quanto esperavam que ia ser e 29% não
souberam ou não responderam.
Com relação ao combate a corrupção, 44% acham que vai piorar, 26%
melhorar e 25% que não vai mudar. A equipe de ministros de Temer é considerada
negativa por 36% dos entrevistados – 32% acham que é regular e 11% positiva.
Para 33% foi um erro grave o governo interino não nomear nenhuma mulher, 30%
acham que foi um erro, mas não muito grave e 30% que é normal.
O impeachment é a solução para o país?
O percentual de brasileiros que NÃO acreditam que a cassação de Dilma
seja a solução para os problemas econômicos do Brasil aumentou para 69%. Na
pesquisa CUT-Vox Populi, realizada em dezembro, o percentual era de 57%¨. Nos
levantamentos feitos em abril, o índice foi de 58% (9 e 12/04) e 66% (27 e
28/04).
Para 26% o golpe é a solução. Nas pesquisas anteriores, os percentuais
foram de 34% (dezembro), 35% 9 de abril e 28% em 27 de abril.
Antecipação da eleição presidencial
A grande maioria dos brasileiros quer eleição já para Presidente da
República. 67% dos entrevistados acham que o Brasil deveria fazer uma nova
eleição para presidente ainda este ano. 29% não concordam com uma nova eleição
e 4% não sabem ou não responderam.
A percepção das pessoas de que suas vidas irão piorar vista nas duas
pesquisas não leva em conta quanta piora haverá porque a esmagadora maioria nem
imagina o que Temer está planejando. Se a sociedade soubesse do “teto” de
gastos públicos que o governo de facto está preparando, haveria uma revolução.
O Brasil não cabe no teto de gastos de Temer. Os economistas dele querem
reduzir o tamanho do governo federal em 30% nos próximos 20 anos. É o que diz a
versão mais radical e duradoura para esse limite de gastos, o “teto”.
Temer enviará um Projeto de Emenda Constitucional ao Congresso nesta
semana propondo tais medidas. Na versão mais nefasta desse plano, a despesa do
governo chegaria a 2036 no mesmo nível de 1997.
Essa medida dá uma ideia de quais são os planos do governo golpista para
a redução do deficit e, ainda, da sua intenção de reduzir o tamanho do Estado.
O “teto” temerário vai limitar o crescimento anual da despesa do governo
ao valor da inflação do ano anterior. Ou seja, em termos reais, o gasto fica praticamente
congelado no valor despendido neste ano.
Para que se possa mensurar o tamanho do estrago, o “teto” atingirá,
prioritariamente, Previdência, Saúde e Educação, mas todas as demais despesas
federais serão asfixiadas. O teto criaria uma situação inviável.
Essa fixação do “teto” é explicada pelos economistas de Temer como
medida para que o governo faça mais com menos, seja mais eficiente. Porém, é um
crime o que ele está fazendo. O país é desigual e pobre demais em renda e em
iniciativas privadas de infraestrutura. Insistir no congelamento de gastos
públicos por 20 anos é um plano deliberado de diminuir o tamanho do Estado e,
assim, favorecer a privatização de serviços públicos.
Tudo isso cairá como uma bomba entre os setores da sociedade que
precisam do Estado. Irá gerar uma “guerra civil”. A instabilidade política só
tende a aumentar.
Mesmo a classe média-média nem sonha com medidas que vão impedir
valorização dos salários e aumento do emprego formal. E muito menos com medidas
que vão extirpar direitos trabalhistas.
As pesquisas citadas mostram, portanto, que, se o impeachment de Dilma
se confirmar, pode ocorrer uma forte convulsão social no país.
Se antes mesmo de as medidas de Temer começarem a surtir efeitos a visão
da sociedade sobre seu governo já está desse jeito, imagine, leitor, o que
acontecerá quando as pessoas começarem a sentir esses efeitos.
O principal efeito do “teto” de Temer será piora na Saúde e na Educação.
Pessoas que estão em vias de se aposentar, não vão conseguir. Os salários vão
cair, muita gente vai ter que aceitar emprego sem registro em carteira.
A desidratação de programas sociais vai gerar aumento da violência e da
criminalidade.
As pesquisas supracitadas comprovam a previsão de uma convulsão social
no país. Muitos pensaram que o impeachment resolveria tudo, que traria de volta
o bem-estar social da era Lula. Muito pelo contrário. Produzirá saudade dos
governos do PT.
É por isso que o partido já está achando bom que o Congresso confirme o
impeachment de Dilma. Deixar a direita governar é o melhor meio de pavimentar o
caminho da esquerda em 2018. E agora temos até pesquisas a apoiar essa tese.
E você, o que acha? É melhor mesmo Temer ficar no cargo e afundar a
direita, já que falta pouco para 2018 e até lá os golpistas se enforcarão
sozinhos? Ou será que a democracia é mais importante e, assim, ele não pode
ficar no cargo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário