Portal Vermelho
O PCdoB do Recife realiza
hoje (29) sua Convenção Eleitoral, quando o conjunto da base partidária na
cidade vai decidir sobre os rumos do partido nas eleições de outubro próximo.
Na entrevista a seguir, Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife e pré-candidato
à reeleição na chapa liderada pelo prefeito Geraldo Julho (PSB), fala sobre a
decisão do partido de integrar mais uma vez a Frente Popular, que reúne cerca
de vinte partidos, e outros temas relativos à luta eleitoral no Recife.
"A Frente Popular
parte para a luta eleitoral absolutamente unida, apesar das diferenças",
garante o também dirigente estadual e nacional do PCdoB.
Leia a seguir.
Às vésperas das convenções
partidárias desenha-se no Recife uma coalizão muito ampla e heterogênea. É
possível a unidade dessa coalizão sabendo-se que em relação à crise política
nacional as opiniões entre os vinte partidos que a compõem são divergentes?
Luciano Siqueira – Sim. A
prática desses três anos e meio da atual gestão liderada pelo prefeito Geraldo
Julio o tem comprovado. Num ambiente de respeito às diferenças e de tolerância
a unidade se dá em torno do programa de governo para a cidade.
A possível coincidência da
votação do impeachment no Senado em agosto não interferirá no ambiente político
dessa coalizão?
LS – Creio que não. Os
partidos que a integram fizeram diferentes opções nas eleições presidenciais,
assim como, se comportaram de modo discrepante diante do impeachment e isso em
nada alterou as relações mutuamente respeitosas e convergentes no governo. Não
será agora, em plena campanha, que isso venha a mudar.
Em âmbito nacional, PCdoB
e PT mantêm uma aliança que vem desde 1989. Por que no Recife essa aliança não
se repete?
LS – Em razão da crise
interna profunda que o PT viveu então, essa aliança já não se repetiu em 2012.
O PCdoB mantém ótimas relações com o PT no Recife, porém, após três anos e meio
de participação ativa na coalizão que governa a cidade – onde pontificam o
vice-prefeito e os titulares das secretarias de Meio Ambiente e
Sustentabilidade e de Esportes, além da direção do IASC (Instituto de Ação
Social e Cidadania) – não faria sentido abandonar a coalizão e passar para o
lado oposicionista. Sobretudo, porque construímos juntos o programa de governo,
que no fundamental vem sendo implementado com êxito.
Mas, setores do PT
criticam o PCdoB no Recife por estar aliado a um partido, o PSB, cuja maioria
dos seus parlamentares votou a favor do impeachment.
LS – A crítica é um
direito democrático. Cada partido tem a sua opinião. Mas, a meu ver, o argumento
não tem consistência, pois estamos aliados ao PSB no Recife em torno de um
projeto para a cidade e a eleição é municipal. Demais, o próprio PT acaba de
anunciar aqui uma aliança privilegiada com o PRB, partido cujos deputados
federais votaram fechados pelo impeachment e participa com destaque do governo
Temer.
Unidade da Frente
Até recentemente a
imprensa local noticiou a pretensão do PMDB em indicar o vice de Geraldo Julio,
alegando inclusive que a presença do PCdoB na chapa poderia causar desconforto
na coligação...
LS – É verdade, os jornais
noticiaram isso durante algum tempo. Vejo como natural um partido da coalizão
aspirar ao posto de vice-prefeito. Mas, em condições normais, essa é uma
escolha do titular da chapa, que considera os muitos aspectos de ordem política
e também o critério da confiança pessoal. Sinto-me honrado por ter sido
escolhido pelo prefeito Geraldo Julio para mais uma jornada de luta.
Falava-se em dificuldade
de relacionamento entre o PCdoB e o PMDB...
LS - Os argumentos e fatos
veiculados pela imprensa não tinham aderência na realidade. O PCdoB jamais
causou desconforto a aliados, nem eu, pessoalmente. Mesmo quando participamos
de alianças em confronto aberto com o PMDB aqui no Recife, pondo em lados
opostos Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos, nós do PCdoB e eu, em particular,
aliados de Arraes e do PSB, jamais deixamos de manter relações cordiais com o
PMDB e seu líderes. Inclusive, com o deputado Jarbas Vasconcelos e com o atual
vice- governador, meu amigo Raul Henry. Nem é verdade que eu costumo chamar
deputados de “golpistas” porque votaram pelo impeachment. Afirmo, que o
impeachment, no que tange à observância da Constituição, é um golpe, pois a
presidenta Dilma não cometeu crime de responsabilidade. Mas, não ataco
deputados e senadores. Nunca fiz isso durante toda a minha vida militante, não
é do meu jeito de ser. Também é falsa a informação de que militantes do PCdoB
teriam pichado com frases depreciativas a residência do deputado Jarbas
Vasconcelos.
Olinda e Recife são duas cidades
muito interligadas. Em Olinda, o PSB tem candidatura própria e combate o PCdoB.
Em que medida esse fato interfere na aliança entre PCdoB e PSB Recife?
LS – Não interfere.
Preferíamos que o PSB mantivesse a aliança conosco em Olinda, assim como o PT,
que lá atua ao lado do PCdoB há quase dezesseis anos. Mas, respeitamos a opção
de ambos terem candidatos próprios. Vamos tentar eleger Luciana Santos numa
campanha elevada, sem hostilizar os candidatos do PSB e do PT, tratando-os como
concorrentes e não como adversários.
Para o PCdoB, então, o
Recife é uma situação considerada excepcional?
LS – Não. É uma situação
comum, perfeitamente sintonizada com a linha geral do PCdoB, que considera a
pluralidade de alianças em todo o país, de acordo com a dinâmica política de
cada cidade e tendo em conta que o foco das eleições está na cidade. O pleito
não é “nacionalizado”. Estou certo de que, apesar das diferenças, a Frente
Popular parte unida para a luta eleitoral que se aproxima, pois, além do apoio
da população do Recife, conta com a contribuição de quadros experientes, como o
vice-governador Raul Henry e o deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB); do
deputado federal e secretário estadual André de Paula (PSD); do próprio PSB; do
PDT; e dos demais partidos que integram a Frente.
Disputa eleitoral
A Frente Popular do Recife
considera a hipótese de um segundo turno?
LS – Toda eleição no
Recife é dura, acirrada. Quando se vence no primeiro turno é sempre por uma
margem apertada. Lutaremos para vencer no primeiro turno, mas, obviamente,
temos que considerar a hipótese de um segundo turno. Isso, inclusive, nos
remete a uma condução tática da campanha firme, esclarecedora e, ao mesmo
tempo, equilibrada, serena, evitando queimar pontes para alianças num
hipotético segundo turno.
Como a Frente Popular
pretende sensibilizar um eleitorado em sua maioria apático e descrente da
política?
LS – O ambiente do pleito
ainda está em formação e é uma hipótese plausível a apatia de parcelas
expressivas do eleitorado. Entretanto, o debate sobre a situação atual e os
rumos da cidade sempre haverá de despertar o interesse da maioria. A cidade é a
extensão do nosso lar, dizem os urbanistas. E a Frente Popular tem muito que
apresentar, o conjunto da obra do governo Geraldo Julio muda significativamente
a vida de boa parte de nossa população – e isso sensibiliza e emociona.
Realizações como o Hospital da Mulher o Programa de Robótica nas Escolas (que
já beneficia mais de 70 mil alunos da rede municipal) – só para dois citar dois
exemplos – têm grande aceitação entre a população. Além disso, faremos uma
campanha propositiva, em tom elevado e ao mesmo tempo leve e criativa, para
reafirmar a esperança e confiança do povo do Recife.
Legado para o futuro
Que legado o atual governo
deixa para a cidade?
LS – Como disse, o
programa de governo vem sendo executado com êxito. Justamente por ter mantido
um saudável ambiente de respeito às diferenças e de busca de unidade em torno
do programa, Geraldo Julio já ostenta um legado muito importante: não se deixou
vencer pela crise geral do país e pela enorme restrição de recursos dela
decorrente; manteve os objetivos programáticos da gestão, reduzindo apenas a
dimensão das metas; destinou mais de 80% (oitenta por cento) de toda a execução
orçamentária – ações, programas, novos equipamentos, etc. – para a maioria da
população, precisamente a grande maioria que sobrevive do seu salário e se
submete a graus variados de vulnerabilidade. Na história recente do Recife,
nunca se fez tanto em tão curto espaço de tempo em favor da população que mais
necessita.
Em que um segundo mandato
de Geraldo Julio poderá avançar?
LS - Poderá avançar muito,
apoiado na experiência e nas realizações acumuladas. Poderá, inclusive,
concretizar um dos seus legados mais importantes: a retomada do planejamento
como “fio da história” na gestão da cidade. Um conjunto de planos estruturantes
do funcionamento e da vida da cidade – entre os quais, destacadamente, o Parque
Linear do Capibaribe / Caminho das Capivaras -, englobados no projeto Recife 500
anos nos darão as linhas seguras para seguir avançando. O Recife 500 anos será
o desenho da cidade que queremos no futuro, iluminando as escolhas do presente.
Por que “fio da história”?
LS - Porque a cidade do
Recife, ao lado do Rio de Janeiro, nos anos 1920 e 1930 do século passado, foi
pioneira do planejamento urbano. Depois, Pelópidas Silveira, nos 1950, e Miguel
Arraes, no início dos anos 1960, deram passos adiante. Depois isso se perdeu
sob o imediatismo como fruto da pressão das demandas emergenciais. Planos até
foram feitos, porém, sem a participação da sociedade e sem concretude. Geraldo
retoma o fio condutor de Pelópidas e de Arraes.
Chapa própria
Como o PCdoB encara as
eleições para a Câmara Municipal?
LS – O PCdoB pretende
eleger uma bancada de vereadores e vereadoras. Nós nos orgulhamos do mandato do
vereador Almir Fernando, um líder popular autêntico, incansável lutador ao lado
do povo da Zona Norte da cidade. Mas, pretendemos ampliar a bancada.
Disputaremos com chapa própria, uma chapa competitiva de homens e mulheres
vinculados à luta do povo em várias áreas e segmentos da cidade, todos com
história de luta comprovada.
(*) Luciano Siqueira é
vice-prefeito do Recife e pré-candidato à reeleição pela Frente Popular.