Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
É
notável o contorcionismo da Folha para artificialmente piorar os resultados de
Lula e Dilma no último Datafolha e melhorar os de Temer.
É uma manobra clássica de engana-trouxas. Escrevi trouxas
porque é assim que a Folha parece tratar seus leitores.
Comecemos por Dilma e Temer.
O
título do texto que mede o atual governo é: 50% dos brasileiros querem Temer no
lugar de Dilma.
Ora, ora, ora.
E os demais 50%? O título poderia ser: “Metade dos
brasileiros não quer Temer”. Ou, num esforço de imparcialidade: “O Brasil
dividido entre a permanência ou não de Temer”.
Você tem que ter cuidado ao ler mesmo pesquisas na mídia.
Os números são dispostos de forma a atender aos interesses dos donos, e os
textos que os acompanham vão na mesma linha.
Por exemplo: o artigo sobre o tema acima trazia também a
avaliação de Temer. É um número tétrico para Temer: apenas 14% acham seu
governo bom ou ótimo.
A Folha escondeu isso no meio do texto. E ainda colocou o
seguinte: era o mesmo resultado de Dilma em sua última avaliação como
presidente.
Mas um momento.
Dilma vinha de um massacre cotidiano da imprensa, da
oposição parlamentar liderada por Aécio e Cunha, da Lava Jato, de Moro — enfim,
de todas as forças reacionárias e golpistas.
Temer não: é protegido pela mídia, e preservado por Moro e
pela Lava Jato. Mais que tudo: ele está no governo há pouco tempo, o que faz
toda a diferença.
O padrão é: altas avaliações populares no início das
administrações e baixas avaliações no final. Temer conseguiu inverter o padrão
consagrado. É rejeitado desde o ponto zero.
Nada dessas ponderações a Folha fez. Mas o fato é que os
14% de aprovação enfraquecem substancialmente Temer. Numa palavra, ele não
pegou. Não decolou. E nem vai melhorar: o tempo só piora as avaliações aos
olhos da sociedade.
O mesmo esforço da Folha para transformar dados se viu em
relação a Lula.
O extraordinário é: com toda a pancadaria que vem levando,
Lula aparece na liderança isolada nas intenções de votos em todos os cenários.
Outros dados notáveis: Aécio perdeu metade das intenções em
menos de um ano. De 27% apurados em dezembro de 2015, caiu para 14% agora.
Todos os líderes tucanos perderam consideravelmente
terreno, o que mostra o desgaste que lhes vem custando a campanha golpista
frenética. Os eleitores moderados do PSDB já perderam a paciência com a guinada
à direita do partido.
Mas como a Folha apresenta o desempenho de Lula? Com um
“mas”, para desqualificar um desempenho impressionante. “Mas” no segundo turno
— e lá vem. Não chegamos perto sequer do primeiro turno, e é no segundo que a
Folha lança luzes para fingir que Lula não é o destaque absoluto deste último
DataFolha.
Faz-se barulho também com a rejeição de Lula: 46%. Mas
atenção: no último DataFolha ela era de 57%. Isso quer dizer: mesmo com toda a
perseguição da mídia e de Moro a rejeição de Lula baixou 11 pontos percentuais.
Ou quase 20%.
O que deve acontecer, caso Lula seja candidato, quando ele
falar nos programas eleitorais e quando jornais e revistas tiverem que publicar
não apenas acusações, como é hoje?
Não é difícil imaginar.
Mas a mídia parece viver num universo paralelo. Neste final
de semana, ao mesmo tempo em que o DataFolha dava a ascensão de Lula, a Veja
fazia uma reportagem especial que trazia uma ficção extremamente ao gosto da
revista. Nela, Lula estaria abatido, sem força política, num terrível ocaso.
Ora, ora, ora.
O leitor inocente da Veja não conseguirá entender como
alguém tão por baixo aparece em primeiro no DataFolha. E repito: sob ataque
incessante.
Ao mesmo tempo em que a Folha e a Veja armavam seus textos
sobre o cenário político, Lula estava no Nordeste falando com gente, misturado
ao povo, como gosta, em plena campanha.
É assim que ele desde já é o franco favorito para 2018 —
quer a Folha e a Veja, para não falar da Globo, queiram.
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