Luciano
Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Creio que o fato não tem precedentes na história da Câmara dos Deputados: quatorze parlamentares de diversas legendas disputam a presidência da Casa.
Creio que o fato não tem precedentes na história da Câmara dos Deputados: quatorze parlamentares de diversas legendas disputam a presidência da Casa.
É a
expressão mais nítida da dispersão da representação parlamentar e partidária
que marca a cena política nacional nesse instante. Um fator de ingovernabilidade
- do próprio parlamento e das suas relações com o Executivo.
Para
muito além das motivações imediatas de caráter fisiológico — marca da atual
legislatura —, e mesmo do ambiente de aguda crise em que vivemos, o pano de
fundo de tamanha dispersão é a exaustão do atual sistema eleitoral e partidário.
Hoje,
ninguém lidera ninguém na Câmara dos Deputados, com exceção de duas ou três
bancadas, isso mesmo com as defecções costumeiras.
A bancada
do PCdoB é una, porém tem peso político limitado porque pequena em relação às
bancadas dos grandes partidos.
E há
também grupos de interesses que se articulam à revelia dos partidos, formando
as tais bancadas “ruralista”, “da Bíblia”, “da bala” e “da bola” – obviamente sem
qualquer lastro programático.
É a
tradução do voto uni nominal e não por escolha desta ou daquela legenda em
razão de uma plataforma ou de um programa. Diferentemente do que ocorre nos
países onde se adota o sistema das listas preordenadas pelos partidos— cabendo
ao eleitor, atento ao debate entre diferentes proposições, optar por este ou
aquele partido sabendo de antemão que seu voto contribuirá para constituição de
uma bancada compromissada e coesa.
Os
eleitos, por seu turno, estão sempre obrigados a honrar os compromissos assumidos
perante os eleitores.
Assim
ocorrendo, dificilmente teríamos, como temos hoje no Brasil, 35 partidos
políticos legalmente constituídos.
Não se
trata de negar o direito e a liberdade de organização partidária, mas é
razoável compreender que por mais complexa que seja a sociedade brasileira, não
há 35 correntes políticas ideológicas produzindo diagnósticos e soluções para
suas contradições fundamentais e os desafios do seu desenvolvimento econômico e
social.
O
sistema de listas preordenadas pelos partidos, quando futuramente vier a ser
adotado — essa esperança não morre —, introduzirá o crivo natural que, através
do voto popular, se encarregará de um processo de decantação ao final do qual
teremos o número de partidos políticos compatível com o debate real existente e
com o provimento da governabilidade.
Isto virá
com uma reforma política de sentido democratizante.
Utopia?
Certamente não. Desde que essa questão ganhe força no pleito de 2018 e se torne
uma vontade política nacionalmente majoritária.
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