Luciano
Siqueira
Qualquer
que seja o resultado final do julgamento do impeachment pelo Senado, a presença
da presidenta Dilma Rousseff hoje, em plenário, tem sentido histórico.
Acusada
de crime não cometido, e sem provas, Dilma enfrentará um tribunal político, que
não tem pejo de dar as costas à Constituição.
O
que está em causa não é a hipocritamente propalada defesa da moralidade
administrativa.
O
que está em causa é a interrupção do ciclo de mudanças iniciado desde o
primeiro governo Lula, de alcance político e social de grande envergadura. E o
retorno às políticas neoliberais, que já se dá a toque de caixa pelo espúrio
presidente interino Michel Temer e seu grupo.
Agora,
ao “mercado”, tudo!
Ao
povo, piora das condições de existência.
É
fato que o PT e aliados cometeram muitos erros, inclusive pelo uso nada
republicano das relações entre o poder público e interesses privados.
Também
é fato que a presidenta jamais exibiu paciência e habilidade para lidar com os
atores políticos. Permitiu-se isolar.
Na
condução da economia, sob o cerco cerrado das implicações da crise global sobre
o Brasil, Dilma também cometeu erros cruciais.
Nem
Dilma nem Lula jamais foram capazes de reunir forças, incluindo a mobilização
ampla da sociedade, para arrostar o capital financeiro, que determina, em
última instância, o funcionamento de nossa economia e tem o apoio unânime do complexo
midiático.
Porém
Dilma não cometeu crime de responsabilidade!
E
se não cometeu crime, é vítima de um golpe institucional. À semelhança dos que
ocorreram no Paraguai e em Honduras.
A
democracia brasileira é rebaixada perante a comunidade internacional.
A
República é submetida a uma das suas piores fases.
No
Senado, como na Câmara, a desfaçatez impera. Muitos dos que até ontem
participavam do governo e o defendiam com ardor mudaram de lado e, com
semelhante retórica, agora defendem o impeachment.
A
grande maioria dos brasileiros e brasileiras a tudo assiste perplexa. Não parece
ter compreendido plenamente o que se passa, ou se queda enfraquecida pelos
laços tênues que guarda com os que a deviam liderá-la.
O
próprio partido da presidenta Dilma, acuado, titubeou muito durante o processo
do impeachment. Aguçou o exclusivismo e abusou de erros táticos que se
acumulavam desde antes.
Agora
que a presidenta anuncia a convocação de um plebiscito caso não se consuma o
impeachment, como saída para o impasse institucional, o PT lhe nega apoio. Insiste
numa suicida tática do “tudo ou nada”, muito mais retórica do que concreta.
Assim,
a História do Brasil haverá de registrar o dia de hoje como o confronto entre democratas
e pusilânimes, sob a omissão ou a conivência de alguns a que caberia um ato de resistência; entre os interesses da nação e do povo versus o conluio entre
rentistas e setores mais retrógrados da elite dominante.
Que
sirva de referência para a luta que seguirá sempre – por um Brasil democrático, socialmente justo e soberano.
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É lamentável e triste, e, muito mais ainda, revoltante!
ResponderExcluirParabéns Luciano
ResponderExcluirLúcido e,como sempre, demonstrando toda sua capacidade de analisar uma situação, seja favorável ou adversa.