Luciano
Siqueira*
Em muitos aspectos, a campanha que agora se inicia tem muitas peculiaridades,
frutos do arremedo de reforma política celebrado, ano passado, pela Câmara dos
Deputados e pelo Senado.
O
quesito mais destacado e que, de fato, implica uma alteração substancial nas
condições da peleja —a ausência de financiamento empresarial — decorre de ação
da OAB junto ao STF, que acolheu a inconstitucionalidade desse expediente, que o
Congresso pretendeu manter, mas a presidenta Dilma não permitiu, vetando-o no
texto final.
Numa
certa medida, este dispositivo aproxima o conjunto das campanhas de uma
relativa igualdade de condições.
Relativa
porque tanto o Fundo Partidário das agremiações maiores, como a possibilidade de
desembolso pessoal, dentro de certos limites, por parte de candidatos ricos
contribuem para manter a disparidade.
E a
extinção do financiamento empresarial privado não se completou com a adoção do
financiamento público.
Porém
não deixa de ser um avanço.
De
outra parte, a redução do tempo de campanha e a redução da multiplicidade de
instrumentos e formas de propaganda convergem no sentido de uma relação mais
direta entre o candidato e o eleitor.
O
chamado corpo a corpo e o porta a porta voltam a ter força ao lado do uso das
redes sociais.
Ações
de rua mais do que nunca devem se combinar com a presença inteligente e ágil na
internet.
Postas
assim as condições da disputa, tudo parece convergir para elevação do conteúdo
do debate eleitoral. Na dependência do nível real de construção política dos
partidos, da militância partidária e da consciência do eleitorado.
Aí
podem residir limitações importantes. Se é verdade que desde a superação da
ditadura militar aos dias atuais, em meio a grandes jornadas políticas, tem-se
dado uma elevação gradativa da consciência política da população, a
fragmentação das informações pela grande mídia que as distorce e a cultura da
radicalização do debate eleitoral contaminam o ambiente.
De toda
sorte, cabe uma dose de esperança de que na curta campanha que nós teremos,
reduzida a 45 dias, não se perca a oportunidade de debater em nível elevado o
presente e o futuro das nossas cidades.
Talvez
não haja tempo nem clima para a conhecida tentativa de
"desconstrução" dos adversários, dando lugar à defesa das próprias
propostas por parte dos postulantes ao poder executivo municipal.
Aos candidatos
do PCdoB cabe abordar os problemas imediatos à luz do Programa Socialista,
ferindo questões estratégicas como as reformas urbana e tributária como
indispensáveis à construção de cidades mais humanas.
Se
assim ocorrer, daremos um passo adiante no sentido da melhor qualificação do
embate eleitoral, o desaforo cedendo lugar ao bom debate de ideias.
*Publicado no portal Vermelho, Blog da Folha e Blog do Renato
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