O outro gênio por trás das obras de Shakespeare
Estudo
afirma que Christopher Marlowe foi coautor de ‘Enrique VI’ com o mestre
britânico
Retrato de Christopher Marlowe. CORPUS CHRISTI COLLEGE
Sobre a vida do dramaturgo, poeta e tradutor inglês Christopher
Marlowe há muitas especulações e poucas certezas, para além do
consenso de que ele foi um colaborador, uma influência e também um forte rival
deWilliam
Shakespeare nos tempos elisabetanos. Mas uma equipe internacional de
pesquisadores chegou à conclusão de que a cooperação entre eles foi bem mais
estreita, a ponto de se atribuir, agora, a Marlowe nada mais nada menos do que
a coautoria das três partes de Enrique
VI, assinada pelo Bardo.
Os
dois homens recebem conjuntamente os créditos como autores desse drama
histórico na nova edição do New Oxford Shakespeare, cujos quatro volumes
que reúnem a produção completa de Shakespeare serão lançados em o final de
outubro e dezembro. “Conseguimos confirmar a participação de Marlowe nas três
obras de forma bastante clara e consistente”, afirmou ao jornal The Guardian o
professor norte-americano Gary Taylor, um dos coordenadores da equipe de 23
especialistas provenientes de cinco países que defende essa tese.
Recorrendo às modernas ferramentas digitais para analisar
os textos, o estudo conseguiu estabelecer que a colaboração de Shakespeare com
diversos autores foi muito mais ampla do que se acreditava até agora, e que
outras mãos participaram de até 17 das 44 obras do Bardo. Esse número mais do
que dobra a estimativa registrada n a edição anterior do New Oxford Shakespeare, de trinta anos atrás. Quando a
prestigiosa publicação da Oxford University Press determinou, então, a
colaboração externa em oito trabalhos shakespearianos, alguns setores do mundo
acadêmico “se disseram indignados”, lembrou Taylor ao jornal. Pois bem, afirma
o professor agora, jogando mais lenha na fogueira, “em 1986 nós subestimamos o
volume dos trabalhos realizados em colaboração”, os quais, segundo as
conclusões do mais recente estudo, estariam próximos de 38% de toda a sua obra.
A figura de Christopher Marlowe (cuja data de nascimento é
desconhecida, embora se saiba que foi batizado em Canterbury em 26 de fevereiro
de 1564) já foi objeto de todo tipo de teorias conspirativas baseadas em vários
aspectos obscuros de sua biografia e de sua própria morte, ocorrida quando ele
contava com apenas 29 anos de idade (1593). Entre elas, a de que o autor de Dido, Rainha
de Cartado ou Doutor Fausto teria
simulado o seu falecimento para continuar escrevendo sob o nome de William
Shakespeare. Em outras palavras, que Shakespeare não escreveu as obras de
Shakespeare, mas sim Marlowe. Essa teoria encontra a resistência de um setor do
mundo acadêmico de admitir quer o Bardo tenha produzido várias de suas peças em
coautoria, uma prática, na verdade, muito comum nos tempos do teatro
elisabetano.
A forma como Shakespeare e esses outros autores dividiam
entre si os enredos e personagens, compunham os seus respectivos trabalhos ou
unificavam estilos, tudo isso são elementos que os estudiosos ainda não conseguiram
detectar. Mas o que parece claro para a equipe de acadêmicos que continua a
esquadrinhar o legado do maior dramaturgo de todos os tempos é que as três
partes de Enrique VI foram
finalizadas a quatro mãos: as de Shakespeare e as da nebulosa personalidade de
Christopher Marlowe.
Leia mais sobre poesia e temas
da atualidade: http://migre.me/kMGFD
Nenhum comentário:
Postar um comentário